As práticas ESG, que englobam as ações realizadas pelas empresas nas esferas ambiental, social e de governança corporativa (remetendo ao termo em inglês para environmental, social and governance), devem ser trabalhadas de forma conjunta e consistente. Mas quando pensamos no social do ESG, vale a pena conhecer o papel que esse pilar desempenha nas organizações.
De acordo com Luiz Fernando Lucas, autor do livro “A Era da Integridade” (Editora Gente), a área social, no ESG, é bastante ampla, abrangendo todo o impacto que o negócio pode causar às pessoas, sejam aquelas que estão diretamente vinculadas à empresa (público interno) ou não. Assim, para que o social do ESG gere resultados sustentáveis a longo prazo, é fundamental que comece a promover impactos positivos internamente. “O ESG faz parte da cultura de valores de uma empresa, é por isso que eu chamo de sistema de integridade”, explica Lucas.
O especialista observa que a cultura de valores é um fator revelador sobre as práticas da organização. “Às vezes me perguntam: qual é a melhor maneira de saber se uma empresa está evoluindo na questão ESG? É simples: as pessoas querem trabalhar lá. Uma empresa que se diz ESG, mas tem altíssimo turnover ou está com a avaliação de clima organizacional muito ruim, não dá para dizer que está cuidando do social por mais que esteja apoiando projetos externos.” Um bom ambiente de trabalho demonstra o comprometimento da organização com as pessoas.
Lucas chama a atenção para esse ponto, destacando a importância de que as empresas evitem contradições ou inconsistências em suas práticas. Afinal de contas, as primeiras pessoas impactadas pelas atividades de uma empresa são aquelas que estão diretamente relacionadas ao negócio, como funcionários, fornecedores, clientes e a comunidade em que a organização está inserida.
“Não dá para ser premiado em ESG e estar com altos índices de reclamação. Por mais que a empresa esteja desenvolvendo algumas ações sociais, mas não esteja fazendo isso de dentro para fora, essas medidas não vão ser sustentáveis, porque a verdade sempre vem à tona.”
Alinhamento de valores
Desenvolver o pilar social do ESG de dentro para fora, conforme destacado por Lucas, não é importante apenas para garantir a coerência em relação às práticas adotadas pela empresa. Além disso, trabalhar essa área a partir da cultura de valores contribui para que toda a organização esteja alinhada em relação ao assunto.
A cultura de valores e o conceito de integridade precisam ser bem assimilados por todos para que, a partir desse alinhamento, possam ser incorporadas práticas sociais compatíveis com o propósito e a cultura da empresa. “Para que todo mundo esteja na mesma página”, resume Lucas. E assim as práticas ESG vão sendo incorporadas pela organização como um todo. “Senão, vira um programa que alguém tem que cumprir como meta, mas nunca de fato vai ser verdadeiro.”
O recado é: arrumar a casa primeiro, cuidando da cultura de valores, para, então, incorporar mais práticas sociais às iniciativas realizadas pela empresa em relação ao ESG. Isso envolve olhar para questões muito discutidas no âmbito das empresas, como a ampliação das políticas voltadas para diversidade e inclusão, por exemplo.
Na área da saúde, o pilar social do ESG é o mais priorizado, segundo levantamento feito pela PwC. Entre as principais iniciativas relatadas pelas organizações do setor, destacaram-se medidas como:
- contribuição financeira significativa para os determinantes sociais das estratégias de saúde e expansão do acesso à saúde para comunidades carentes;
- investimento e atualização de tecnologias e talentos para proteção contra violações e ataques cibernéticos;
- programas robustos de diversidade de fornecedores;
- programas abrangentes de diversidade e inclusão, como programas de recrutamento e mentoria.
A partir dos dados coletados pela PwC é possível observar a amplitude das ações sociais no ESG praticadas pelas empresas, com destaque para as iniciativas relacionadas à cultura organizacional. “Muitas organizações de saúde têm iniciativas internas para melhorar a diversidade e a transparência do conselho, aperfeiçoar programas de diversidade e inclusão para a força de trabalho, fazer o upskilling da equipe e reforçar iniciativas de segurança no local de trabalho”, destaca o estudo.
“A base do ESG é um sistema de integridade que engloba, além da governança corporativa, ambiental e social, o compliance (seguir todas as regras, estar de acordo com a legislação e adotar uma política de não corrupção), a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a questão da diversidade etc.”, elenca Lucas.
Métricas e estímulo
Além de consolidar um sistema de integridade que incorpore as práticas ESG, as organizações devem monitorar o desempenho que têm alcançado em relação às iniciativas que adotam. “As empresas estavam acostumadas a medir seus resultados, indicadores de performance, através de indicadores financeiros, de lucro, de market share, muito da parte econômico-financeira”, observa o especialista. “Um programa de integridade que tenha o ESG como parte precisa começar a medir também os impactos sociais, ambientais e de governança.”
Considerando as ações voltadas para a cultura organizacional, Lucas frisa que é recomendado medir a evolução na parte ético-comportamental dos valores e da integridade estabelecidos pela empresa. “Medir a aderência aos programas de integridade quando os valores começam a fazer parte do dia a dia das pessoas”, ressalta o especialista.
Outro aspecto importante são as medidas de treinamento e estímulo, capazes tanto de promover a educação em relação às boas práticas quanto de valorizar as pessoas que as adotam no dia a dia.