A presença feminina na Medicina vem crescendo. Desde 2009, o número de mulheres que ingressa na profissão supera o de homens. De acordo com a pesquisa Demografia Médica no Brasil, realizada por Mário Scheffer, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), as mulheres representam 57,4%, no grupo até 29 anos, e 53,7%, na faixa entre 30 e 34 anos. O estudo aponta que a representatividade masculina cresce com a idade.
“A minha turma de faculdade, há 45 anos, tinha 120 alunos e somente 10% eram mulheres”, lembra a otorrinolaringologista Sara Bittante Albino, diretora da Associação Paulista de Medicina (APM).
A partir de registros dos títulos de especialistas e da conclusão de programas de residência, o estudo coordenado por Scheffer indica também a preferência feminina por algumas áreas. Elas são maioria na pediatria (70% de mulheres), medicina da família e comunidade (54,2%), clínica médica (54,2%) e ginecologia (51,5%).
Na opinião de Sara Albino, embora tenham ocorrido inegáveis conquistas no mercado de trabalho, falta presença feminina em alguns setores. “As mulheres médicas ainda ocupam poucos cargos de liderança nas empresas de saúde, hospitais, serviço público de saúde e até mesmo nas entidades representativas de classe”, afirma a médica.
A professora da pós-graduação da Faculdade Unimed, Karla Giacomin, compartilha da visão de que as mulheres devem ocupar mais posições de gestão, além de espaço em associações, cooperativas e universidades. “As mulheres têm as mesmas capacidades de execução e competência que os homens, com algumas características que as favorecem: versatilidade e sensibilidade”, diz a docente.
Mercado competitivo
Entre outros cenários revelados pela pesquisa, um deles aponta o crescente número de novos médicos. Em 2024, a previsão é de que haja 28.798 novos registros na profissão, 200% a mais do que duas décadas atrás (2004).
“Apesar de tempos difíceis para a Medicina e para a formação médica, diante de um mercado muito mais competitivo e com condições cada vez mais adversas, as mulheres não se atemorizam, pelo contrário, se desdobram em criatividade, dedicação e empenho para o bem-estar e a recuperação dos seus pacientes”, afirma Carmita Abdo, primeira-secretária da Associação Médica Brasileira (AMB). “Sem dúvida, a Medicina vem se transformando numa profissão feminina. Seria pela maior resiliência da mulher ao enfrentar as adversidades?”, finaliza a médica, professora e pesquisadora, que trilhou uma carreira exemplar na psiquiatria.
A presença feminina na medicina é maior entre o público que tem até 29 anos.