O ambiente de trabalho é um local para compartilhar conhecimentos, experiências e, principalmente, valores. Essas trocas que acontecem no dia a dia refletem como os relacionamentos são construídos no cotidiano da empresa e dão forma à cultura organizacional.
Por ser fruto da interação entre as pessoas, a cultura organizacional deve se disseminar naturalmente, mas isso não quer dizer que não possa ser trabalhada gerencialmente. Pelo contrário, para fazer com que os valores defendidos pela empresa se concretizem na prática é preciso estabelecer uma comunicação transparente com as equipes, buscar pontos de convergência e estimular a adesão às condutas éticas.
Em relação às instituições de saúde, a cultura organizacional é um aspecto essencial para garantir a excelência no atendimento aos pacientes, desde os primeiros contatos. Mesmo clínicas pequenas e consultórios devem estar atentas a esse ponto para atingir os melhores resultados no negócio com o maior nível de satisfação de colaboradores e clientes.
O que é cultura organizacional?
“Cultura organizacional é um conjunto de valores, princípios, modelos de liderança e propósito de uma empresa”, conceitua o presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH Brasil), Paulo Sardinha. Esse é um conceito bastante abrangente, avalia; por isso, em geral, a cultura organizacional se resume à convergência de valores e comportamentos praticados na empresa.
Evidentemente, não se trata de moldar pessoas. A construção da cultura organizacional parte de definições básicas que estabelecem as principais condutas esperadas das pessoas que trabalham para a empresa e que se alinham aos valores corporativos. Esses aspectos devem ser constantemente estimulados, ou seja, desenvolvidos pelo exemplo e, também, por meio de ações e atividades integradas à rotina, incluindo programas de desenvolvimento.
Para que tudo isso seja possível, é importante que a gestão tenha clareza em relação à forma como querem conduzir a empresa. Isso quer dizer que devem, sim, registrar a missão, a visão, os valores e os propósitos perseguidos pela organização. Códigos de conduta e de ética também são instrumentos interessantes para delimitar comportamentos desejados e proibidos.
Ao definir todos esses critérios, a empresa passa a atuar de forma mais objetiva na construção da própria cultura. Além disso, essa é uma forma transparente de expor o posicionamento da organização para as pessoas que trabalham para ela, clientes e futuros talentos. Nesse aspecto, a cultura organizacional passa a ser, inclusive, um instrumento de retenção e atração de pessoas para trabalhar na empresa.
Um estudo feito pela Fundação Dom Cabral em parceria com a consultoria de recrutamento Robert Half identificou que a aderência à cultura é um dos principais fatores observados tanto por quem recruta no momento da contratação quanto por profissionais em busca de um emprego ou de uma nova posição no mercado de trabalho.
A pesquisa Match Perfeito – o que buscam profissionais e recrutadores revela que o fit cultural (afinidade em relação aos valores e propósitos) é o segundo fator mais relevante para o recrutamento no momento da seleção, ficando atrás apenas da experiência prévia da pessoa que se candidata ao cargo.
Esse fator aparece na quarta posição para pessoas que estão empregadas quando avaliam uma nova proposta de emprego. Entre as que estão em busca de emprego, o fit cultural é o segundo item mais relevante em relação à vaga.
O estudo reforça a importância da cultura organizacional. Quanto maior for a clareza em relação aos valores e propósitos, mais fácil será a sua adesão, começando pelo processo de seleção da força de trabalho.
Quais são as vantagens da cultura organizacional para instituições de saúde?
Na prática, a cultura organizacional promove uma série de benefícios para a organização, tais como:
- Melhoria de processos: a delimitação de condutas e comportamentos cumpre o papel de orientar as pessoas a realizarem suas atividades com base nos valores estabelecidos, reduzindo, assim, as chances de atuação em desacordo com as práticas defendidas pela empresa. Parte-se do pressuposto de que todos sabem como agir e isso garante mais agilidade e qualidade aos processos. “Quando a empresa desenvolve o bom comportamento por formação e por educação, relaxa no controle, porque a boa conduta vai se dar naturalmente”, detalha Sardinha.
- Redução de conflitos: a cultura organizacional quando bem construída é um instrumento para harmonizar o ambiente de trabalho. Além de fazer com que todas as pessoas estejam alinhadas em relação aos valores praticados, é possível estabelecer regras para disciplinar comportamentos inadequados, como a discriminação, o assédio moral, a conduta antiética etc.
- Estímulo à retenção e atração de talentos: valores e propósitos são aspectos cada vez mais valorizados por profissionais e podem gerar tanto a permanência dos talentos como a atração de pessoas que tenham afinidade com a cultura da empresa.
- Satisfação dos clientes: uma empresa com valores e propósitos bem definidos e que são colocados em prática no dia a dia tem mais chance de satisfazer seus clientes, pois tende a adotar condutas positivas, que valorizam as pessoas que trabalham para ela, geram mais empatia e atendem às necessidades dos clientes.
No caso das instituições de saúde, o presidente da ABRH Brasil destaca que a cultura organizacional é um recurso eficiente para disseminar boas práticas e humanizar o atendimento, um aspecto fundamental para o segmento da saúde.
Sardinha destaca a relevância da humanização na área da saúde e lembra como esse tema era defendido pelo médico especializado em cirurgia crânio-maxilo-facial Ricardo Cruz, falecido em 2020 por conta da Covid, “que travava uma cruzada pela questão da humanização no atendimento”. “Ele dizia que o olhar humano melhora, inclusive, os aspectos técnicos.”
A cultura organizacional nas instituições de saúde deve, portanto, perseguir valores fundamentais do segmento, que vão se refletir em um serviço de melhor qualidade na ponta. O presidente da ABRH Brasil orienta que esse processo está ao alcance de empresas de todos os portes.
Nas organizações de grande porte, a cultura organizacional envolve procedimentos mais complexos. Para empresas menores é possível iniciar esse processo de forma simples, trabalhando os valores principais. Nesse caso, a empresa precisa definir valores e condutas essenciais e compartilhá-los com a sua força de trabalho. Com o tempo, os métodos vão se aprimorando gradativamente, por meio da adoção de mais elementos norteadores da prática da empresa e novos instrumentos para o desenvolvimento das equipes.