Há no Brasil e em outros países um movimento que prega a “medicina sem pressa” ou “slow medicine”. O movimento nasceu na Itália em 2002 a partir de um artigo do cardiologista italiano chamado Alberto Dolara. O nome é inspirado no movimento de origem também italiana, fundado por Carlo Petrini que ficou mundialmente conhecido como “slow food”. O movimento pregava um estilo de vida mais vagaroso, que apreciasse a boa comida e um bom vinho. Em 2011, o movimento “slow medicine” foi formalizado na Itália e em 2014 iniciou suas atividades no Brasil, tendo sido trazido por Marco Bobbio, outro cardiologista italiano que na ocasião lançou a tradução do livro “O Doente Imaginado”.
Segundo o manifesto do movimento “slow medicine” disponível em https://www.slowmedicine.com.br/manifesto/ as palavras de ordem da prática médica deveriam ser “sóbria, respeitosa e justa”. Sóbria quer dizer “fazer mais não significa fazer melhor”; respeitosa no sentido de que os valores, expectativas e desejos das pessoas são diferentes e invioláveis; e justa porque os cuidados adequados e de boa qualidade devem ser para todos. O movimento também define os seus 10 princípios:
- Tempo: tempo para ouvir, para entender, para refletir;
- Individualização: cuidado particularizado, justo, apropriado;
- Autonomia e autocuidado: decisões compartilhadas. A chave da questão são os valores, expectativas e preferências do paciente;
- Conceito positivo de saúde: neste conceito de saúde o foco é no autocuidado e resiliência;
- Prevenção: alimentação saudável é a prescrição básica para uma vida saudável. Atividade física regular, pensamento positivo e flexibilidade mental são essenciais para manter nossos cérebros saudáveis;
- Qualidade de vida: fazer mais nem sempre significa fazer melhor;
- Medicina Integrativa: o melhor de dois mundos: medicina tradicional sempre que indicada. Medicina complementar como acupuntura se possível. As palavras de ordem são recuperação, equilíbrio, harmonia;
- Segurança em primeiro lugar: lembre-se do juramento de Hipócrates: “Primum non nocere et in dubio abstine” (Em primeiro lugar não causar o mal. Em dúvida, abstenha-se de intervir);
- Paixão e compaixão: resgatar a paixão pelo cuidar e o sentimento da compaixão na atenção médica. Buscar incansavelmente a humanização dos cuidados à saúde;
- Uso parcimonioso da tecnologia: a tecnologia deve servir ao homem.
Os princípios são básicos e óbvios aos olhos desatentos, mas a medicina nas últimas décadas tem se tornado cada vez mais comercial mesmo com lemas que são aparentemente bem-vindos, como “é melhor prevenir do que remediar”. A combinação do desejo da vida eterna, mercantilização e medo de doenças e o excesso de medicina preventiva faz de movimentos como “slow medicine” um imprescindível contrabalanço que proporciona racionalismo e a volta do essencial e humano na assistência à saúde.
O movimento no Brasil tem a liderança dos médicos José Carlos Campos Velho e Dario Birolini, o primeiro geriatra e o último cirurgião do trauma. Há muito material disponível, como informações sobre condições de saúde e doenças, artigos, resenhas de filmes e livros e entrevistas no site oficial (https://www.slowmedicine.com.br/ ).