A atividade econômica dos nossos principais parceiros comerciais está desacelerando, o que tende a prejudicar o desempenho das nossas exportações. Enquanto isso, os estímulos fiscais implementados pelo governo federal desde o início deste ano têm preservado a demanda doméstica, o que suporta nossas importações. Essa discrepância reduzirá nosso saldo comercial em médio prazo, que somada ao ciclo de aumento de juros nos países desenvolvidos, reduz as chances de uma valorização consistente da nossa taxa de câmbio.
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A atividade econômica nos EUA está arrefecendo com a retirada dos estímulos fiscais e monetários. A renda pessoal disponível para consumo recuou no primeiro semestre, em termos reais, o que já tem desacelerado o ritmo de expansão do consumo das famílias. Além disso, o aumento da taxa de juros hipotecária está reduzindo as vendas e o início de construção de novos imóveis. O PIB real deverá estagnar no próximo ano e o risco de uma pequena recessão não é desprezível.
Na zona do Euro, a elevada inflação e a incerteza sobre o fornecimento de gás deprimiram os indicadores de confiança dos consumidores e empresários, antecipando um ciclo de retração da atividade em alguns países da região. O caso alemão é mais emblemático, já que possui elevada dependência da energia importada da Rússia.
O governo chinês também possui seus enormes desafios. O mercado imobiliário, extremamente relevante para o PIB do país, está em retração. As vendas de residências estão caindo e o preço médio dos imóveis recuou pelo 11º mês consecutivo em julho. A incerteza sobre a situação financeira de algumas construtoras pode afetar a decisão de compra de imóveis pelas famílias, o que dificulta a recuperação do setor através de medidas tradicionais de redução de juros.
Enfim, o mundo está desacelerando e a possibilidade de recessão no próximo ano não pode ser descartada. Parte desse ambiente adverso já está sendo refletida pela queda do preço das commodities no mercado internacional, especialmente as metálicas, nos últimos meses. Nossas exportações podem ser prejudicadas por esse ambiente externo.
Enquanto isso, o governo brasileiro adotou uma série de medidas fiscais para suportar o consumo das famílias, como a liberação de parte do FGTS, aumento de benefícios sociais e redução de impostos. O impulso fiscal sobre a atividade econômica implementado neste ano deverá ficar em torno de 1,6% do PIB, o que pode dificultar o trabalho do banco central de arrefecer a demanda doméstica para combater a inflação. Assim, apesar da taxa Selic em patamar muito restritivo de 13,75% a.a., a atividade segue em expansão e estimula as importações.
O superávit comercial brasileiro acumulado em doze meses diminuiu de USD 65 bilhões em março para USD 56 bilhões em julho. Esse patamar ainda é confortável, mas muito distante de projeções divulgadas no início do ano em torno de USD 80 bilhões para 2022. A balança comercial continuará superavitária em 2023, mas em patamar inferior ao ocorrido nos últimos anos. Além disso, o ambiente mundial mais adverso, inclusive com aumento de juros nos principais países, pode dificultar um movimento de grande influxo de capitais nos mercados emergentes.
Portanto, a nossa taxa de câmbio não deve apresentar tendência de valorização relevante nos próximos trimestres, salvo um eventual choque de esperança com as eleições.