O desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre foi acima das expectativas anunciadas no fim do ano passado. A atividade está recebendo impulsos de curto prazo e, em muitos casos, apenas uma antecipação do futuro. Além disso, não podemos esquecer dos impactos defasados do ciclo de aumento da taxa de juros. Assim, recomenda-se cautela em extrapolar o passado recente para o segundo semestre.
As vendas de varejo subiram 2,3% no primeiro trimestre deste ano em relação ao quarto trimestre do ano passado, com ajuste sazonal. Além disso, os serviços para as famílias expandiram 1,3% no mesmo período. Mesmo com a elevada inflação, que prejudicou o poder de compra, o consumo pessoal apresentou desempenho positivo nos últimos meses.
Importante analisar os motivos dessa pujança para ajudar a olhar para frente. O aumento do dispêndio com o programa assistencialista Auxílio Brasil ajuda a suportar a renda das famílias ao longo deste ano. Além disso, o governo adotou uma série de medidas temporárias, como a antecipação do pagamento do abono salarial. Também não podemos deixar de mencionar o aumento da mobilidade e interação social como impulsionadores dos serviços.
O segundo trimestre ainda deve ser beneficiado por outras medidas temporárias, como a antecipação de parte do décimo terceiro salário para aposentados e pensionistas do INSS e a liberação de recursos do FGTS.
Se você antecipa o gasto de um recurso que seria utilizado no segundo semestre, o que acontecerá lá na frente? Naturalmente, se as pessoas gastaram esses recursos na primeira metade do ano, haverá o efeito reverso no terceiro e quarto trimestres.
Além disso, não podemos esquecer que a taxa básica de juros caminha para 13,25% a.a. em junho, o que o próprio Banco Central considera significativamente contracionista. A maior parte do ciclo de aumento da taxa Selic começou a apertar as condições de financiamento somente no início desse ano e deverá prejudicar a atividade econômica com veemência no próximo semestre.
Um reflexo disso é a manutenção da confiança do consumidor em patamar baixo em maio, o que sinaliza que o cenário para a demanda doméstica permanece desafiador.

O ambiente externo também está deteriorando, com a necessidade de os países desenvolvidos desaquecerem suas economias para controlar suas inflações e as medidas de restrição de mobilidade na China. O menor crescimento mundial também poderá prejudicar o nosso volume exportado, especialmente no próximo ano.
Portanto, podemos comemorar o momentum melhor do que o antecipado da atividade econômica no primeiro trimestre. Mas não podemos esquecer que parte relevante dessa surpresa foi apenas uma antecipação de renda, que cobrará o seu preço no segundo semestre.