Nada mais oportuno em tempos de longo isolamento que enfatizar a necessária revisão dos conceitos de Liderança. Artigos como esse, que escrevo mensalmente no Conexão, por sua natureza de objetividade e espaço limitado, tem características diversas do texto de um capítulo de livro, em termos de estilo. Ressalto isso em razão do lançamento recente de meu livro Liderança Duradoura, que trata do mesmo assunto. Todavia, em que se pese a diversidade formal – artigos ou capítulos – mantêm-se equivalentes quanto ao foco liderança.
Lá como cá, tento repassar os princípios e valores que defendo, embasados em cinco décadas de vivências alicerçadas no respeito às suas sólidas manutenções. Por isso, quando completamos, hoje, as duas dezenas dessa série de artigos – e estamos iniciando uma próxima – considero oportuno enfatizar a importância da releitura dos artigos anteriores para completar um ciclo de compreensão e melhor aproveitamento pessoal. Nada melhor do que repensar nossas atitudes em momentos propícios para a reflexão.
Por que insisto nessa tecla? A resposta está no que vejo acontecer nos últimos meses. Há incontáveis propostas de lives, que se repetem no tema da liderança relacionada à pandemia. Antes, sobre o momento pandêmico que crescia de intensidade e no aumento do número de mortes; agora, quanto às decorrências do pós e de como formatar o novo normal, enfrentando-o com eficácia nos resultados. De certa maneira, são cansativas sessões digitais com opiniões que divergem conforme os apresentadores. Os que acompanham essas palestras são, em grande maioria, também os leitores da nossa rede social. São líderes em suas respectivas áreas de trabalho, compreendem melhor essa série de artigos em que falamos de experiência própria, exercida por esse tão longo espaço de tempo.
Andrew Salomon, premiado autor de O demônio do meio-dia, em mensagens expostas em livro, afirma que líderes cujas decisões mudaram o mundo foram levados a essas escolhas pelas circunstâncias. Impossível saber se tais líderes fizeram história ou estavam simplesmente atendendo às exigências de seu tempo. É exatamente isso que acontece relacionado às exigências circunstanciais de hoje.
Por isso, descrever de próprio punho e compartilhar conquistas, deslizes, frustrações, momentos de vitórias e derrotas, parece-me uma vantagem em “ter o que contar”. Discutir elementos que moldam o caráter e apontam caminhos para construção da Liderança Duradoura, a partir do alicerce do edifício que pode conduzir ao topo – lugar desejado por alguns e temido por outros -, é mais adequado e honesto do que seguir modelos teóricos esquematizados em planilhas e paradigmas de coaching tão na moda.
É voz corrente que o mundo vai mudar quando esta epidemia global deixar de assolar os terráqueos e a vacina estiver disponível. Talvez mudem os critérios de valorização das coisas, o relacionamento social, os conceitos na relação de trabalho. Tudo isso poderá acontecer. O que não há de mudar, contudo, são os princípios e os valores cuja perenidade mantém o perfil estrutural básico do líder. Os séculos transcorreram, os episódios históricos deixaram suas marcas, inovação e tecnologia arrombaram as portas da modernidade, mas as condições primárias para o exercício pleno da liderança – expostos nessa vintena de artigos – continuam iguais no decorrer dessa longa jornada, principalmente agora, no momento de exceção que estamos vivendo.