A covid-19 é uma doença respiratória que ainda traz muitas dúvidas aos médicos e aos pacientes quando se fala nas sequelas que ela pode deixar. Mesmo depois da alta hospitalar, algumas pessoas – principalmente as que desenvolveram o estágio grave da doença – precisam continuar com tratamentos especializados por um determinado período para recuperar a saúde e a qualidade de vida.
Entre as sequelas mais comuns, estão alterações cardiorrespiratórias e neurológicas, que causam fraqueza muscular, asma, fadiga, dificuldades de mobilidade, arritmia cardíaca, ansiedade, perda de memória e até mesmo depressão.
Para tratar os problemas respiratórios, o pneumologista Ricardo Martins, professor do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), explica que o essencial é que os médicos encaminhem seus pacientes o quanto antes para a reabilitação pós-covid.
“Percebemos que algumas pessoas perdem muitos quilos quando são acometidos pela forma moderada ou grave da doença, mas mesmo as que desenvolvem um quadro leve podem apresentar perda. Normalmente, essa perda está ligada à massa magra, muito importante para todos. Por isso, quanto mais rápido os pacientes entrarem no programa de fisioterapia para recuperação da musculatura, melhor. Isso vai minimizar bastante os problemas causados pela covid“, diz o especialista.
Martins também ressalta a importância de um bom acolhimento psíquico por parte da equipe médica. “O apoio psicoterápico dos médicos desde a internação é fundamental para a gente começar a identificar quem são os pacientes que vão precisar de uma terapia mais prolongada e quais os encaminhamentos necessários como pneumologistas, cardiologistas e neurologistas“.
“Dependendo do número de dias que a pessoa ficou internada e do grau de consciência que teve naquele período, ela pode desenvolver quadros de estresse, ansiedade ou depressão. Esses casos merecem muita atenção e precisam ser devidamente encaminhados para o tratamento psiquiátrico, sendo às vezes necessário entrar com medicação“, explica.
Pacientes com quadros leves
É comum que as pessoas que desenvolveram quadros leves da doença demorem para procurar o auxílio de um profissional, mas isso não significa que elas não precisem também de um programa de reabilitação para restabelecer a qualidade de vida.
Segundo o médico, esses pacientes preocupam, pois, muitas vezes, vão atrás de um especialista tardiamente. “Não é porque a pessoa não internou que podemos dizer que ela não desenvolverá sequelas. Na verdade, isso até nos preocupa porque a pessoa fica relaxada e deixa a coisa andar. É muito comum recebermos pacientes desse tipo, que não tiveram nada, e depois se queixam de algum problema“, pontua.
Em julho de 2021, o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) divulgou um estudo que afirma que 60% dos pacientes que tiveram covid apresentam sequelas mesmo um ano após terem contraído a doença.
Por isso, o pneumologista acredita ser necessário que esses pacientes continuem o acompanhamento com seus médicos. “Isso [sequelas], às vezes, acontece porque talvez a pessoa não tenha sido avaliada precocemente. Uma vez dado o diagnóstico, é importantíssimo que se faça o acompanhamento da pessoa. É bom que os médicos façam avaliações físicas no paciente para mapear o grau de comprometimento dos órgãos. A covid não é uma gripe simples“.
Cada tratamento é particular e cada paciente responde de uma forma diferente às sequelas deixadas pelo vírus, e isso não impede a pessoa de recuperar sua forma física de antes.
“As pessoas precisam confiar que vão melhorar, por isso é superimportante que elas comecem os programas de reabilitação precocemente e sigam todas as orientações. Claro que elas também precisam ter paciência, porque os tratamentos demoram, alguns mais e outros menos, mas a maioria recupera integralmente a saúde“, diz.
Por fim, Martins reforça a importância da vacinação contra a covid-19 para reduzir os impactos da doença.