Espero que a epidemia, tal qual ela se apresenta hoje, lentamente se retire. A vacinação deverá produzir os efeitos esperados. Novas vacinas deverão ser entregues e farão a diferença. E teremos conseguido criar um clima de solidariedade para fazer chegar as doses necessárias aos países pobres? Como isso depende da economia mundial – debelar a pandemia para pôr a roda da economia para girar – eu acredito que sim, o mundo pobre terá no novo ano acesso a vacinas.
Muitas foram as lições nestes dois anos e devemos tê-las aprendido. Realçamos a importância estruturante da Atenção Primária à Saúde, – APS – a importância de criar redes que consigam pelo menos virtualmente construir melhores escalas para a utilização de tecnologias mais complexas, a importância de investir em políticas de C&T&I, de manter uma capacidade de produção de materiais e medicamentos críticos para o processo de atenção, a necessidade de sair do espaço do discurso da entrega de valor para nossos clientes para uma prática da atenção à saúde onde de fato o paciente esteja no centro de nossas ações.
As lições ainda estão sendo digeridas. Mas tivemos uma promessa neste fim de ano com grande capacidade de gerar impacto em nossas ações a partir do ano que vem. Mas dependerá de entender essa promessa e começar a gerar uma demanda por ela para que seus prováveis frutos possam ser colhidos.
Trata-se do 5G. As primeiras medidas foram tomadas e dependerá da capacidade de nossa sociedade em vigiar a aplicação das regras pelo estado e empresas envolvidas no fornecimento da nova tecnologia. Existe um esforço regulador a ser executado pelo estado, mas existe também um esforço por parte das empresas que vão disponibilizar o acesso a essa tecnologia. Mas talvez, o mais importante motor dessa equação serão as empresas e setores da sociedade que deverão demandar a nova tecnologia para conseguir melhorar suas entregas à sociedade.
As promessas do 5G são fantásticas: 100 vezes maior velocidade de conexão e uma brutal redução do tempo de espera (o delay deverá cair de 50 a 70 milissegundos para 1 a 5!). Você pode não saber avaliar um milissegundo, mas a diferença de grandeza aqui anunciada dá uma noção do impacto. Nós estamos pensando em medicina a distância, que aliás foi um dos aprendizados da pandemia, mas o 5G permitirá uma medicina conectada, praticamente sem delay. Com certeza, esta não é a promessa para o ano novo, mas estamos entrando em uma nova era que prenuncia várias outras.
Conseguiremos ter prontuários eletrônicos que respeitem as regras de sigilo e proteção de dados dos pacientes e que possam ser utilizados em diversas operadoras? Certamente dependeremos de querer ofertar esse produto. Hoje queremos sistemas exclusivos e é isso que temos. Construir interoperabilidade não é magia, tem que querer e construir instrumentos que o permitam. Um exemplo atual de como isso é possível pode ser observado na área de análises clínicas – é bastante razoável o nível de conectividade já alcançado, embora muito ainda possa ser feito.
Na área de diagnóstico por imagens existe uma imensa estrada a ser construída, que utilizando Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning (ML) já está criando sistemas de emissão de laudos em tempo real para grandes redes de serviços que tem conseguido operar com um número reduzido de técnicos especializados. Toda a área de monitoração de sinais vitais, que produz montanhas de dados que não somos capazes de enxergar e interpretar usando essas ferramentas de ML e IA podem se transformar em poderosas ferramentas para alertar os médicos e enfermeiras do que deve ser realizado. Além do aparecimento dos wearables que produzem outra montanha de dados que podem ajudar no acompanhamento de pacientes fora do ambiente das unidades de saúde.
Mas a mensagem mais importante não é “aqui temos novidades, aqui temos algo que é um fim em si mesmo”. Não podemos cair nessa armadilha. A boa medicina, a boa prática assistencial continua presente, mas temos novos meios, que poderão melhorar muito nossa capacidade de fazer entregas a nossos clientes. Para isso temos que aprender sobre essas novas tecnologias, aprender a utilizá-las e principalmente demanda-las. É através da estruturação da demanda dessas novas ferramentas que vão surgir novas soluções. E em um futuro não muito distante estão novas promessas – o 6G, o 7G, a computação quântica…
Mas continuamos falando de ferramentas que devemos dominar para transformar sua ação em uma melhor assistência à saúde.
Quanto ao pandemônio, vamos ver o que faremos em outubro de 2022.