Com a alta transmissibilidade da nova variante ômicron, estuda-se a possibilidade de uma quarta dose contra a covid-19 para a população em geral.
A discussão veio à tona após a comunidade científica perceber que as vacinas perderam parte de seu poder com a chegada dessa variante. A proteção promovida pela Astrazeneca, por exemplo, contra a reinfecção pela ômicron ficou menos do que 19% após a segunda dose, segundo um estudo do Imperial College London divulgado em dezembro de 2021.
Entretanto, boa parte dessa proteção foi restaurada após uma terceira dose, que fez a efetividade do imunizante subir para 55 a 80%. O mesmo ocorreu com outras vacinas, de acordo com os pesquisadores. Apesar de não haver dados suficientes ainda, estima-se que a terceira dose também perca sua eficácia após alguns meses, por isso a quarta dose entrou em pauta.
Mesmo sem muita evidência sobre o efeito dessa nova dose de reforço, alguns países, incluindo o Brasil, já começaram a adotá-la para casos específicos. Desde o fim de dezembro, uma nota técnica do Ministério da Saúde recomenda a quarta dose por aqui apenas para pessoas imunossuprimidas, quatro meses após o reforço.
Já Chile e Israel incluíram a dose extra no esquema de vacinação. No país da América Latina, ela começará a ser dada a partir do dia 7 de fevereiro a todos os maiores de 55 anos e, em seguida, diminuirá gradativamente a idade.
“Estamos iniciando a quarta dose. Por quê? Em primeiro lugar, porque as vacinas perdem eficácia com o tempo, a proteção que elas geram diminui e, em segundo lugar, porque as novas variantes também fazem as vacinas perderem força“, explicou o presidente chileno.
No Brasil, idosos e população em geral vão tomar?
De acordo com Alexandre Naime, infectologista e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ainda não é possível dizer. Mas a cidade de Botucatu, em São Paulo, por exemplo, estuda a aplicação em idosos.
“Um estudo mostrou que há dois perfis de pacientes internados lá: ou que não tomaram a dose de reforço ou idosos com mais de 70 anos que foram vacinados com CoronaVac (uma vacina muito boa, mas que não estimula o sistema de defesa dos idosos de forma tão boa como as outras) e a dose de reforço foi feita há muito tempo (mais de 4 meses)”, conta ele.
O infectologista afirma que ainda não está claro na literatura o poder da quarta dose ou após quanto tempo a eficácia da terceira dose começa a cair. “Mas é sabido que as vacinas atuais, mesmo com três doses, têm menor eficácia em relação à prevenção de transmissão da ômicron. Então a quarta dose está sendo prevista para idosos para reduzir o risco de covid grave, e não de transmissão. Mas não temos evidências de que isso funcione”.
O idoso tem algumas características de pessoas imunossuprimidas, por conta da chamada imunossenescência – um envelhecimento do sistema imunológico. Para essas pessoas talvez uma quarta dose seja eficaz em termos de reduzir a internação, segundo Naime.
De maneira geral, antes de dizer se tomaremos uma quarta dose ou não, é preciso esperar dados mais consistentes para a população em geral. De acordo com o infectologista, o ideal, na verdade, seria “corrigir” as vacinas e deixá-las mais eficazes contra as variantes. “O problema é que para a população idosa a gente não pode aguardar isso”.