Atualmente, as teleconsultas são realidade no Brasil, na saúde privada e pública. Em pesquisa feita com gestores de 122 hospitais privados em setembro de 2020, 75% responderam ter nas suas instituições procedimentos de telemedicina ou telessaúde, entre eles a teleconsulta.
No Sistema Único de Saúde (SUS), 1,8 milhão de pessoas realizaram teleatendimento com profissionais de saúde, no TeleSUS, entre abril e junho de 2020. O serviço foi criado para avaliação remota de sintomas da Covid-19.
Na classe médica, mesmo antes da pandemia, o atendimento remoto já era adotado de alguma forma e até visto com bons olhos. Em fevereiro de 2020, a Associação Paulista de Medicina (APM) fez uma pesquisa com 2.258 médicos de 55 especialidades. Entre os participantes, 88% utilizariam ou considerariam usar a telemedicina como recurso para ampliar o atendimento da clínica ou hospital.
Para 44% dos médicos ouvidos, o que impede o uso de ferramentas de comunicação online na assistência aos pacientes é a falta de regulamentação, e 64% esperam que o Conselho Federal de Medicina (CFM) regulamente a teleconsulta.
Um “novo normal”, mas sem esquecer a qualidade
Com números como esses, será difícil que a modalidade de atendimento à distância não seja liberada em todo o país, mesmo após o fim da pandemia do novo coronavírus, é o que avaliam especialistas.
Enquanto não há uma definição pelo CFM, nas esferas legislativas, o assunto movimenta discussões. Em novembro, foi lançada a Frente Parlamentar Mista da Telessaúde, que tem entre os seus signatários 200 deputados e sete senadores dos mais diversos partidos.
A implantação desse novo modelo de cuidado, porém, é repleta de desafios, aponta Rubens Covello, CEO do IQG Health Services Accreditation, entidade que lançou recentemente uma acreditação voltada para avaliar e aprimorar a qualidade da telessaúde.
“O teleatendimento é visto como a solução para vários problemas no sistema de saúde”, aponta Covello. “Entretanto, implantá-lo pode ser complexo, pois além de depender dos conceitos comportamentais e éticos de seus usuários, também é influenciado por fatores como condições legais, organizacionais e financeiras. É preciso processos regulatórios consistentes e responsabilidades definidas de seus usuários para a consolidação dessa atividade”.
Entre as barreiras que impedem a expansão deste método de atendimento, Covello destaca a falta de financiamento compartilhado e uma estrutura única de gerenciamento e governança, regulamentos inconsistentes de privacidade e segurança, variações nas qualificações e segurança das plataformas.
A Organização Nacional de Acreditação (ONA), responsável pelo desenvolvimento dos padrões brasileiros de acreditação em saúde, também tem voltado sua atenção para o tema.
Recentemente a ONA instituiu um Comitê de Telemedicina e Saúde Digital, do qual fazem parte profissionais especialistas no tema. Segundo a organização, o propósito do comitê é de discutir sobre as diretrizes e boas práticas para telemedicina.
“A finalidade é analisar a trajetória do paciente e identificar pontos críticos para a aplicabilidade da telemedicina, bem como identificar pontos importantes da gestão, liderança e apoio que impactam na telemedicina“, afirma Péricles Góes da Cruz, superintendente técnico da ONA.
O que já é permitido
Hoje, a teleconsulta é permitida em caráter excepcional e provisório no Brasil, como uma resposta à pandemia da Covid-19. Outras modalidades de telemedicina, porém, já são regulamentadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Um exemplo é a chamada teleinterconsulta, em que um médico pode auxiliar um colega remotamente, por meio de ferramentas digitais.
A teleinterconsulta tem sido adotada principalmente para reduzir o déficit de acesso a médicos especialistas.
Na cidade de Betim (MG), por exemplo, o uso deste tipo de atendimento fez com que a fila de espera por consultas eletivas para usuários do SUS, que era de até um ano, passasse a ser de apenas uma semana. O projeto foi desenvolvido pela empresa de tecnologia L2D.
“O paciente vai até o posto de saúde, onde há um equipamento com internet e tela. O médico generalista e enfermeiros acompanham a consulta”, explica Luiz Donke, CEO da L2D. Se o especialista prescrever algum medicamento, por exemplo, essa prescrição é enviada online e entregue ao paciente na hora.
Esse tipo de iniciativa mostra o potencial que a tecnologia tem de revolucionar o cuidado ao paciente e o dia a dia dos médicos.
Certamente, os aprendizados de 2020 serão decisivos para a trajetória dessa tecnologia em 2021.
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