Adaptar as necessidades do sono à rotina dos plantões é uma das batalhas diárias dos profissionais da saúde. Como conseguir se adaptar a extensa rotina causando o mínimo de efeitos sobre o corpo e ainda mantendo a atenção no trabalho? Helen McKena, pesquisadora da Royal Free Intensive Care Unit, de Londres, publicou um artigo no BMJ, antigo British Medical Journal, em que fala sobre os principais problemas causados aos profissionais que precisam trabalhar em períodos noturnos e como amenizar os principais problemas causados pelas mudanças no ciclo circadiano.
O ciclo biológico do corpo ou ciclo cicardiano existe em quase todos os seres vivos e tem a luz como principal influenciador na liberação do hormônio melatonina, substância que ajuda a regular o sono. De acordo com a pesquisa de McKena, trabalhar à noite perturba esse ciclo gerando ao corpo uma “dívida de sono”, prejudicando o desempenho e atenção nas tarefas, além de causar danos à saúde.
Dentre os principais riscos apontados pela pesquisadora estão o desempenho de tarefas críticas, risco de acidente durante a volta para casa, principalmente para aqueles conduzem algum veículo no trajeto. Além disso, o desequilíbrio no ciclo do sono para colaborar com o surgimento de doenças como obesidade, diabetes, doença coronariana, câncer de mama, próstata e colorretal.
Para analisar os problemas causados, o artigo teve como base as informações sobre o sono e o trabalho noturno em instituições como o National Institute for Health and Care Excellence (Nice) e o Royal Colleges of Physicians and Anaesthetists. Também foram pesquisadas as bases de dados da PubMed and Cochrane (maio, 2017) e analisados dados interdisciplinares sobre a natureza do sono e as trocas de turnos em áreas como aviação e indústria pesada.
Foi levada em consideração também uma pesquisa realizada em 2017 com 2.231 anestesistas residentes do Reino Unido para avaliar os efeitos do trabalho noturno. Mais de 70% dos entrevistados relataram que a fadiga dos plantões afetou seu bem-estar físico e psicológico. Deste total, 57% relataram um acidente ou uma situação de “quase acidente” na volta para casa durante a troca de turnos.
No artigo, a pesquisadora sugeriu algumas medidas preventivas para os profissionais que precisam trabalhar à noite.
O que fazer durante o primeiro dia antes de uma madrugada de trabalho?
- Durma naturalmente sem a interferência de despertadores
- Evite o consumo de café pela manhã
- Além de dormir durante a manhã, tire um cochilo de pelo menos 90 minutos entre as 14h e 18h. Isso ajudará a concluir pelo menos um ciclo de sono
O que fazer durante o turno da noite para melhorar a sua atuação no trabalho?
- Mantenha-se ativo
- Tire cochilos de 10 a 20 minutos no início do plantão
- Tome café apenas antes do plantão – e esse deve ser o último café da noite
- Faça uma alimentação leve
- Faça checklists para se manter alerta durante atividades críticas, para evitar erros por desatenção
- A prescrição de remédios estimulantes pode ajudar, mas tem efeitos colaterais
Quais cuidados são necessários durante as últimas horas de plantão e na volta para casa?
- Evite a cafeína e a nicotina, pois elas podem atrapalhar o seu descanso
- Use óculos escuros para evitar a incidência direta da luz solar, inclusive nos dias nublados
- Evite dirigir. Considere formas alternativas de voltar para casa, como o transporte público ou outra opção que desejar
O que fazer durante os dias entre o trabalho noturnos?
- Tente dormir o mais cedo possível
- Antes de dormir evite álcool, cigarro, café, celular ou TV
- Durma em um quarto silencioso e escuro.
- Aceite que qualquer sono é melhor do que nenhum, até mesmo os pequenos cochilos
E para recuperar o sono após os plantões?
- Tente dormir de 90 a 180 minutos logo após o plantão
- Saia para dar uma caminhada
- Vá para a cama um pouco mais cedo do que de costume
- Para regular o sono durante a noite, evite sonecas durante o dia