A recente desvalorização da taxa de câmbio é resultado de alguns fatores externos e internos. Esses motivos devem continuar influenciando nos próximos trimestres, o que sustenta a possibilidade de enfraquecimento adicional da nossa moeda. Mas não extrapole os movimentos de uma semana para o futuro, pois as contas externas continuam saudáveis.
A guerra comercial entre os EUA e a China está desacelerando rapidamente a produção industrial mundial, o que prejudica o preço de commodities e as nossas exportações. Assim, o saldo comercial brasileiro tem-se deteriorado nos últimos meses.
Do lado interno, a redução da taxa de juros (taxa Selic) tem levado vários consultores financeiros a recomendar maior diversificação dos nossos investimentos, com a redução da parcela em renda fixa e o aumento de outros ativos mais arriscados. Se pudermos pensar dessa forma para nossas carteiras, por que o investidor estrangeiro também não pode chegar à conclusão parecida?
Imagine uma pessoa residente em Miami e que planeje investir US$ 100 por um ano. Suponha que ela possua duas opções: títulos de renda fixa nos EUA com remuneração de 1,7% ao ano ou letras do tesouro brasileiro com juros de 5,3% ao ano (valores aproximados do mercado financeiro). Se os recursos forem aplicados nos EUA, ela receberá, no final do primeiro ano, US$ 101,70. Um retorno pequeno, mas sem risco de calote ou variação cambial. Caso, porém, decida investir em títulos brasileiros, ela precisa converter os US$ 100 dólares à taxa de câmbio de 3,70 e aplicar R$ 370. Após um ano, ela receberá R$ 389,61 e precisará converter novamente em dólares para repatriar os recursos. Se a taxa de câmbio continuar em 3,70, ela poderá levar de volta US$ 105,3, um bom investimento. Mas se a taxa de câmbio desvalorizar para 4,00, então, ela retornará com apenas US$ 97,40. Isso mesmo, ela perdeu dinheiro.
Isso mostra que os nossos títulos públicos precisam pagar, pelo menos, a taxa de juros americana mais a expectativa de desvalorização cambial. Em outras palavras, somente vale a pena investir aqui se você acreditar que a taxa de câmbio não desvalorizará mais de 3,5% em um ano. Você consegue ter essa convicção? Eu não.
Assim, o baixo diferencial de juros tem incentivado os exportadores a deixar parte das suas receitas no exterior, e as empresas estão tomando crédito aqui para antecipar o pagamento das suas dívidas lá fora.
Nos últimos 12 meses, o resultado líquido entre a entrada e saída de divisas está negativo em US$ 31 bilhões, o que gera pressão para desvalorização cambial.
Isso não significa que estamos em crise cambial, muito longe disso. Nossas contas externas ainda estão solventes e possuímos mais de US$ 380 bilhões em reservas internacionais.
Enfim, a tendência de desvalorização cambial permanecerá enquanto a guerra comercial entre as duas principais potências mundiais persistir, e o nosso Banco Central continuar reduzindo a taxa de juros. Mas não aposte em movimentos de ruptura.