A crise global sem precedentes, as incertezas de uma doença altamente contagiosa e a sensação de frustração provocam pressão psicológica intensa em médicos, enfermeiros e demais agentes de saúde que estão envolvidos diretamente com o enfrentamento à COVID-19.
Um estudo publicado pela Associação Médica Americana (AMA, na sigla em inglês) revelou que dos 1.257 profissionais de saúde que trabalham com pacientes infectados na China, mais de 50% relataram sintomas de depressão, 44% de ansiedade e mais de 70% revelaram sofrimento psíquico. A pesquisa foi divulgada em 23 de março.
“Ansiedade é uma reação possível diante da insegurança”, diz a psicóloga Debora Gianezini, da clínica OncoStar, ligada ao hospital Vila NovaStar, em São Paulo. “A pandemia traz o profissional para o mesmo lugar de vulnerabilidade em que está o paciente, ou seja, todos podem se contaminar.”
Os fatores relacionados ao sofrimento psíquico incluem a insegurança com falta ou falha de eficiência de equipamentos de proteção (EPIs), o luto pela perda de colegas e o receio de transmitir o vírus a familiares.
Uma das estratégias para evitar estresse agudo e esgotamento emocional é focar no propósito da profissão. “O senso de trabalho colaborativo da equipe e de atuar em prol de uma causa humanitária fundamental pode contrabalançar os aspectos tão ameaçadores e difíceis”, afirma Debora. “É uma oportunidade de honrar com toda força a escolha profissional e a missão do cuidar”, completa a psicóloga.
Entre as iniciativas que visam prestar apoio a quem está na linha de frente do combate ao novo coronavírus, consta o programa Telepan Saúde, idealizado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais em parceria com a Associação Brasileira de Neuropsiquiatria (ABNP). São oferecidas sessões virtuais gratuitas com psicólogos e psiquiatras.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um guia de recomendações, dirigidas a diferentes grupos, de como enfrentar as consequências psicológicas da pandemia. O trabalho completo, em português, pode ser acessado na página da Organização das Nações Unidas (ONU).
Selecionamos algumas propostas da OMS que podem ajudar você.
Pausa: tente fazer pausas e descansar um pouco entre os turnos de trabalho. Se for possível, tire até mesmo um momento dentro do expediente.
Alimentação e exercícios: mantenha uma dieta saudável e busque investir tempo em atividades físicas. Coloque corpo e mente para trabalharem a seu favor.
Família próxima: continue conectado com seus entes queridos. O contato virtual é uma forma de tê-los por perto.
Compartilhamento de emoções: troque ideias com colegas. Você poderá descobrir que estão tendo experiências semelhantes e atravessando o mesmo que você.
Grupos de apoio: informe-se sobre projetos que prestam suporte psicológico neste período de pandemia. Se precisar, busque auxílio de um deles.
Evite: tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com o estresse. A longo prazo, pioram o seu bem-estar físico e mental.