Entre 1918 e 1919 grassou a gripe espanhola no Brasil e dos 29 milhões de brasileiros, estima-se cerca de 35 mil mortes. Em um país que hoje tem 210 milhões de habitantes, isso implicaria em pouco mais de 250 mil mortos. A atual pandemia já passou a crise espanhola em número de mortos! É a maior catástrofe sanitária do país.
Muito ainda não foi aprendido – esta é uma doença onde a via principal de disseminação é a via aérea. Contato também ocorre, mas é menos importante. O já chamado de Teatro da Higiene tem até alguma importância, mas não deve fazer com que se secundarize o uso das máscaras e de se manter o distanciamento social. Aerossóis devem ser evitados, locais fechados são proibidos, o ar livre da natureza e a não aglomeração é muito positivo e estes locais devem ser oferecidos à população que necessita de descompressão.
A questão da higiene acabou por ganhar um espaço ritualístico e o isolamento social ganhou espaço e passou a significar – não se comunicar e não interagir. Temos que reaprender como nos comportarmos nesta pandemia. Ao livre devemos ou não usar máscaras? Sem aglomeração é desnecessário, mas nós, cientistas, acreditamos que é impossível explicar isso ao povo e, em parte, foi por isso que a questão do contato ganhou tamanha importância. Tapetes com hipoclorito não tem nenhuma função em conter a pandemia. Boas regras de higiene são importantes sempre, mas não diminuem a infectividade desta pandemia.
Temos que voltar a valorizar a testagem com o RT-PCR para a identificação dos portadores de vírus e sugerir que estes se isolem para reduzir a disseminação da doença. Temos que retomar ás aulas para que as nossas crianças não fiquem mais um ano sem se socializarem – esse é o principal papel da escola. Temos que administrar melhor as escolas públicas envolvendo pais e professores nesta gestão, que tem que ser local, escola a escola. Como voltar o funcionamento da escolar se já fecharam novamente, os professores e alunos não devem ir. E providenciar ao grupo de professores, que também fazem parte do grupo prioritário, a vacinação.
Como acaba a pandemia? Quando pelo menos 70% tiver tido a doença e o vírus não conseguir achar mais os suscetíveis. Hoje, acredita-se que 20% da população brasileira tenha tido a doença, e 250 mil mortes. Para que 70% da população tenha a doença, teríamos que ter 875 mil mortes!! Alcançar a imunidade de rebanho como o presidente deseja, levará a esse número alarmante e desnecessário de mortos. Portanto, a vacina tem extrema importância, pois, constrói imunidade, mas para isso, é necessário que a maior parte da população seja vacinada.
O alvo da vacinação são todos os brasileiros com mais de 18 anos, com exceção da vacina da Pfizer que testou em jovens a partir de 12 anos, nenhuma vacina testada até agora fez esse teste em menores de 18 anos. Futuramente, elas serão testadas e as crianças deverão ser vacinadas também. Mas agora temos algo em torno de 170 milhões de brasileiros que devem ser vacinados. Temos que vacinar a maior parte possível desse grupo com vacinas de duas doses. Apenas a vacina de Janssen é dose única? São eficazes?
Sim, são, porém com distintas marcas. Nenhuma vacina demonstrou produzir uma imunidade esterilizante – 100% de eficácia, e não sabemos por quanto tempo a relativa eficácia de cada vacina durará e, não se sabe também por quanto tempo as defesas construídas durante a doença durarão para as pessoas que já tiveram a doença. E além de tudo isso existem as novas variações. As novas cepas. Que poderão ser resistentes às vacinas e que já estão demonstrando que já são mais infectantes.
É tudo verdade, mas não toda a verdade e estamos muito longe de sabermos qual é a verdade. Vivemos um tempo bom para surgirem os arautos do apocalipse. Os catastrofistas. Com certeza não vivemos em tempos para acreditarmos em soluções mágicas. A hidroxicloroquina, a cloroquina, a invermectina, a natozonadina, decididamente não são eficazes e nem seguras. Um colega de turma me disse – então não podemos fazer nada? O cara ta ali morrendo e não podemos fazer nada? Sinto muito pela sensação de impotência do clínico geral à beira do leito, mas nessas situações não podemos fazer nada.
Vamos usar a boa medicina e o que se sabe para tentar salvar a vida de nossos pacientes. Somente oxigênio, corticoides e anticoagulantes, junto com medidas de suporte à vida e algumas técnicas como, a pronação e que se revelam eficazes e seguras. Apesar do silêncio dos conselhos de medicina, é o que o nosso código de ética permite fazer.
A saída é vacinar. Onde estão as vacinas? Graças ao Butantã e Fiocruz, que começaram a negociar vacinas em maio de 2020 e temos um projeto que 350 milhões de doses deverão ser entregues até o final deste ano. São vacinas da Sinovac (vírus atenuado com eficácia de 50%) e da Astra Zeneca (vetor viram com cerca de 70% de eficácia). O cronograma de entrega ficou atrasado em um mês, deveria ter sido iniciado em fevereiro, mas devido a uma bobagem de nossas Relações Exteriores, a China atrasou as entregas em um mês. A partir do final de março teremos cerca de 30 milhões de doses até o final do ano. Parte delas envasadas aqui e a partir de setembro, totalmente produzidas aqui. Se não acontecer mais nenhuma ernestada.
Mas e a eficácia? Tem as vacinas da Pfizer e Moderna com 95% de eficácia. Mas as vacinas que temos são essas duas e qualquer que seja a vacina, ela só será efetiva se cobrir a maior parte da população. E ainda temos muito a aprender e investigar sobre elas e essa doença. Poderemos comprar mais vacina? Russa, indiana, etc? Sim, se o governo se movimentar e se elas conseguirem comprovar através de estudos completos que são seguras e eficazes.
Tentei fazer um resumo da situação atual e ao mesmo tempo, um quadro de temas que temos que aprender para melhor informar nossos pacientes.