Atributo fundamental da liderança é a CORAGEM. Se consultarmos o dicionário, um dos significados para o substantivo feminino é “moral forte perante o perigo e riscos, bravura, intrepidez”. Prefiro um segundo sentido, que encaminha à “firmeza de espírito para enfrentar situações difíceis”. Esta é mais ampla e serve melhor para o nosso propósito.
No decorrer da história universal e, principalmente nos momentos de batalhas, desde a idade antiga e medieval, os fatos distinguiram aqueles que imbuídos de coragem, sem levar em consideração os riscos de morte, tornaram-se heróis lendários. O cinema e a literatura são fartos em mostrar tais feitos. A primeira definição nos encaminha para isso. O que aqui nos ocupa não vai no sentido de valentia a qualquer custo.
Para o líder autêntico e duradouro, cabe melhor a “firmeza de espírito” no enfrentamento de situações que se apresentam no decorrer da vida administrativa, familiar ou pessoal. E, ainda, há que se considerar o medo, que sempre está presente como fator a ser vencido. Então, coragem não significa ausência de medo (mesmo que se use como antônimo), mas sim o enfrentar a situação apesar do medo.
No decorrer da minha longa jornada de liderança, eu não hesitaria em afirmar que a ausência desta qualificação (ou virtude) é percentualmente alta dentre os dirigentes de empresas. Fatores emocionais, por vezes ligados à rigidez paterna na infância ou a traumas antigos, são comuns na interpretação da alta incidência. É fácil observar, em reuniões de diretorias ou conselhos, a falta de posicionamento claro em assumir posturas que se contrapõem à maioria, mesmo que não concorde com essa.
Agora, se aliarmos a coragem ao atributo de dizer a VERDADE, então avançamos demais na qualificação da liderança. Lembrem-se que já tenho falado e escrito sobre o termo grego PARRESIA, que significa falar a verdade, inclusive sobre si mesmo.
O filósofo Michel Foucault tem um livro onde foram compiladas aulas e palestras de um Curso no Collège de France, na década de 1980, com o título de “A coragem da verdade”, que é extremamente atual. Valeu para aquela época e vale para o nosso tempo. Aliás, para todos os tempos. Lá podermos encontrar os vínculos de amarração entre a verdade da coragem e a coragem de dizer a verdade.
Trata também, por consequência, do tema da vida NÃO dissimulada. O uso da fala franca, sem disfarces, por dizer a verdade apesar dos riscos que venha a correr, é o atributo ético indispensável para o líder duradouro, quer nas análises de planejamentos empresariais ou na tribuna política.