Cerca de 350 mil norte-americanos apresentaram parada cardíaca respiratória (PCR) não traumática extra-hospitalar (PCREH) e foram atendidos pelos serviços médicos de emergência (SME) dos Estados Unidos.
Desses, menos de 40% receberam ressuscitação cardiopulmonar (RCP) começada por alguém que não é profissional de saúde e menos de 12% tiveram um desfibrilador externo automático (DEA) à disposição antes da chegada do SME. Em contrapartida, cerca de 1,2% das pessoas internadas sofrem parada cardíaca intra-hospitalar (PCRIH). Os desfechos da PCRIH são imensamente melhores que os desfechos da PCREH e seguem melhorando.
São dados de pesquisas realizadas em 2015 e que constam no novo documento lançado pela American Heart Association (AHA), divulgado no fim de 2020, com protocolos recomendados para os casos de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e atendimento cardiovascular de emergência. O objetivo da instituição é tornar mais eficientes os atendimentos à população por meio do aprimoramento das habilidades e competências dos serviços de emergência.
O atendimento à parada cardíaca pelo protocolo da American Heart Association é o método mais utilizado no Brasil e no mundo. As recomendações da entidade são atualizadas anualmente, mas a cada cinco anos o material todo é revisado e republicado em um uma nova edição.
Propostas de alterações
O documento traz novas diretrizes para suporte básico de vida (SBV) e para suporte avançado de vida cardiovascular (SAVC), além de alterações no protocolo anterior. Entre elas, estão:
- Aprimorar os algoritmos e recursos visuais para cenários de ressuscitação no SBV e SAVC;
- Reafirmar a importância do envolvimento imediato de socorristas leigos na RCP;
- Dar ênfase na administração antecipada de epinefrina;
- Manter a qualidade da RCP através do uso de dispositivos de feedback visual simultânea;
- Mensurar continuamente a pressão arterial sanguínea e o teor de dióxido de carbono ao final da expiração (ETCO2) durante a ressuscitação de SAVC pode ser útil para melhorar a RCP;
- Não usar rotineiramente a dupla desfibrilação sequencial;
- Dar preferência ao acesso intravenoso (IV) para administração de medicação. Quando o IV não estiver acessível, é aceitável optar pelo acesso intraósseo (IO);
- Dar maior atenção à oxigenação, à avaliação da intervenção coronária percutânea, ao controle direcionado de temperatura, ao controle da pressão arterial e ao neuroprognóstico multimodal após o retorno da circulação espontânea (RCE);
- Avaliar e dar suporte formal para suas necessidades físicas, cognitivas e psicossociais em decorrência do longo período de recuperação pós-PCR;
- Oferecer maior atenção ao debriefing de profissionais da saúde, profissionais do SME e socorristas leigos para beneficiar a saúde mental e bem-estar dos que atuaram na RCP;
- Focar na ressuscitação maternal, com preparação para um parto de emergência para salvar o bebê e aumentar as chances de ressuscitação da mãe ao realizar RCP em grávidas.
Também foram revisados e atualizados algoritmos, com foco em promover mais eficiência ao treinamento de socorristas de atendimento à beira-leito. As principais atualizações dos algoritmos são:
- Adição de um sexto componente nas cadeias de sobrevivência da PCRIH e PCREH – o componente “Recuperação”;
- Alteração no algoritmo universal de PCR, dando mais ênfase na administração antecipada da epinefrina quando o paciente não precisa de desfibrilação;
- Adição de dois novos algoritmos para emergência relacionada ao abuso de opioides;
- Atualização do algoritmo de cuidados pós-PCR, enfatizando a importância de evitar hipoxemia, hipotensão e hiperóxia;
- Adição de novo diagrama para orientação e informação sobre o neuroprognóstico;
- Adição de novo algoritmo para melhorar a abordagem de casos especiais, como gravidez.
Para o cardiologista Diógenes Alcântara, CEO da Empreender na Saúde, cada vez mais pessoas terão um prognóstico melhor com o aperfeiçoamento dos atendimentos. Em nota, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) afirma que “as diretrizes da AHA se prestam a informar, e não a substituir o julgamento clínico do médico que, em última análise, deve determinar o tratamento apropriado para seus pacientes”.
O documento completo pode ser acessado no site da AHA.
Algoritmo de PCR para adultos: