Um estudo desenvolvido por uma equipe do Massachusetts General Hospital (MGH) e da Harvard Medical School (HMS) usa inteligência artificial para analisar as drogas já disponíveis no mercado que possam ter efeito mais assertivo contra a patologia.
O método mede o que acontece às células neurais do cérebro humano quando tratadas com um medicamento. Em seguida, determina se as mudanças induzidas por uma droga se correlacionam com marcadores moleculares de gravidade da doença.
“Machine learnings realizam equações matemáticas complexas a partir da convergência de dados e possibilitam obter resultados com muito mais rapidez do que pesquisas convencionais”, diz o neurocirurgião Jorge Roberto Pagura. E complementa: “Esse estudo indica caminhos importantes, pois é difícil saber quais medicações funcionam, conforme as doenças degenerativas evoluem”.
O objetivo do trabalho é que a tecnologia contribua, inicialmente, para uma triagem de medicamentos a fim dos estudos clínicos se concentrarem nos mais promissores.
“O método DRIAD (Drug Repurposing In Alzheimer’s Disease), criado pelos pesquisadores americanos, utiliza banco de dados de efeitos de medicações nas expressões gênicas. Várias substâncias podem alterar a expressão de genes, fazendo com que haja maior ou menor produção de RNAm e consequentemente produção da proteína correspondente”, explica o neurologista Eduardo de Paula Estephan, professor do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina Santa Marcelina e membro do Grupo de Miopatias e Ambulatório de Miastenia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Os bancos de dados que têm as informações desses efeitos de milhares de medicamentos são usados para cruzar com dados de alterações de expressão gênica na doença de Alzheimer. “Ou seja, pode-se usar as informações atualmente já disponíveis de genes que estão com expressão alterada nessa doença, mesmo sem sabermos quais as consequências dessas alterações no metabolismo das células”, acrescenta Dr. Estephan.
Ação anti-inflamatória
O estudo também analisa drogas que não são normalmente utilizadas para o Alzheimer, mas que poderiam ser benéficas no tratamento contra a doença. “Esse sistema seria baseado em medicações inibidoras de quinases, que exercem ação anti-inflamatória das proteínas conhecidas por seu papel em doenças como artrite reumatoide e câncer hematológico”, afirma Dr. Pagura.
Para o médico Eduardo de Paula Estephan, embora os estudos pareçam promissores, requerem validação em sistemas de modelo in vitro e in vivo. “Outra limitação é saber se os medicamentos atravessam a barreira hematoencefálica, o que é importante para o seu uso em doenças neurológicas. Esses compostos não foram desenvolvidos para tratar doenças neurológicas e podem ser necessárias adaptações nas medicações para que elas consigam chegar em suas células-alvo”, finaliza.


















