Por suas múltiplas funcionalidades, os celulares estão cada vez mais presentes no dia a dia da população e de muitos profissionais. Nas instituições de saúde, no entanto, essa presença é evitada, sobretudo após a divulgação de um estudo pela revista científica New England Journal of Medicine, que alerta para o fato de que o covid-19 consegue sobreviver até 3 dias em algumas superfícies, como plástico ou aço.
O estudo foi realizado por cientistas dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), da Universidade da Califórnia, de Los Angeles e de Princeton e publicado em 17 de março.
Quando uma pessoa fala ao telefone, emite gotículas que podem conter os vírus. Uma vez instalados no smartphone, os inimigos passariam a ser transportados para outros locais, inclusive onde estejam pacientes imunodeprimidos. O caminho inverso também ocorre facilmente: ao repousar o telefone em superfícies infectadas, como uma mesa em um hospital, o celular seria um eficiente meio de transmissor da doença.
Aparelho de médicos e enfermeiros
Dois estudos mostram que telefones de médicos e enfermeiros podem servir de reservatórios para uma miríade de patógenos, além do novo coronavírus. Um desses estudos, desenvolvido pelo cirurgião Cristiano Berardo, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mostrou que cerca de 88% dos celulares de cirurgiões, anestesistas, enfermeiros, instrumentadores e outros profissionais atuantes nas salas de cirurgia estavam colonizados por bactérias relacionadas à infecção hospitalar.
Para a realização da dissertação de mestrado “Avaliação microbiológica dos aparelhos celulares dentro do bloco cirúrgico: Avaliação em um hospital beneficente de Pernambuco“, foram colhidas amostras de 50 aparelhos de profissionais do bloco cirúrgico do Hospital Português, no Recife, a fim de avaliar o grau de contaminação dos objetos. Os resultados são alarmantes: de todos os celulares analisados, 44 (88%) estavam colonizados por bactérias, sendo que a mais comum foi o Estafilococos coagulase-negativa (75%), seguido do Bacillus subtillis(15,9%) e Micrococcus sp (9,1%).
Outro estudo, realizado pela pesquisadora Maite Muniesa, do Departamento de Microbiologia da Universidade de Barcelona (UB), indica que a tela de um celular pode conter até 600 bactérias, 30 vezes mais do que um vaso sanitário limpo. A pesquisa foi realizada em mil lares espanhóis.
Boas práticas do uso do celular em organizações de saúde
Os estudos evidenciam que as medidas de higiene e segurança empregadas em hospitais, clínicas e outras organizações para prevenir a proliferação de bactérias devem incluir os telefones celulares.
“Às vezes, quando o profissional está prestando um atendimento, o celular toca e ele sai para atender sem higienizar as mãos. O que isso pode acarretar de perigo para o paciente vai depender do próprio médico. Se ele sempre higieniza as mãos corretamente antes de usar o celular e antes do cuidado com o paciente, garantindo os cinco momentos para a higienização das mãos orientados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), as bactérias presentes no celular não interferirão na assistência”, explica Rebecca Saad, infectologista e diretora médica da OH Consulting, consultoria especializada em gestão em qualidade assistencial e segurança do paciente.
Esses 5 momentos, segundo as orientações da OMS, são antes do contato com o paciente, antes da realização de procedimento asséptico, após risco de exposição a fluidos corporais, após contato com o paciente e após contato com as áreas próximas ao paciente.
Rebecca ainda ressalta a importância do cuidado com os aparelhos em um ambiente cirúrgico. “O celular pode desviar a atenção da equipe e, consequentemente, colocar em risco a segurança do paciente. O ideal seria que ele nem entrasse na sala cirúrgica. No entanto, se algum profissional estiver esperando um contato urgente, é importante que o aparelho esteja no modo silencioso e que a equipe siga os passos de higienização à risca ”, finaliza.
Produto para higienizar
Use álcool isopropílico com concentração 70%. É vendido em lojas de eletrônicos ou em revendedores de smartphone. Não é recomendável jogar o produto direto sobre o aparelho ou submergir o smartphone. O ideal é colocar o álcool em um pano apropriado e esfregá-lo no celular. Pode ser utilizado em componentes como tablets, teclados, etc. Infectologistas afirmam que o álcool com concentração 70 é eficiente para matar a maioria dos vírus, inclusive o covid-19.