Mesmo após mais de 1 ano do início da pandemia, a doença provocada pelo vírus Sars-CoV-2 ainda é considerada “nova” pela comunidade científica. Aos poucos, médicos e estudiosos da área vão fazendo novas descobertas sobre a covid-19.
Uma delas é que as pessoas recuperadas após um quadro leve, moderado ou grave podem desenvolver sequelas das mais variadas. Um estudo recente, feito pela USP (Universidade de São Paulo), mostrou que 60% dos pacientes sentem sintomas como fraqueza, problema de concentração, fadiga e falta de ar após um ano de alta hospitalar por covid-19.
Para esse grupo de sintomas se dá o nome de síndrome pós-covid ou covid longa (long covid, em inglês), considerada uma doença pós-viral que é mais prevalente do que se imaginava inicialmente.
O que os pesquisadores descobriram é que o vírus contamina muito além das células localizadas nas vias respiratórias superiores (nariz, traqueia e garganta). O coronavírus atinge também as vias respiratórias inferiores, onde ficam os alvéolos pulmonares. Com isso, ele consegue acesso à corrente sanguínea e pode, então, causar problemas em diversos órgãos.
Quais são os principais sintomas?
A síndrome pós-covid, por vezes, pode apresentar sinais distintos e parecidos com os de outras doenças. Por isso, é importante perguntar, em primeiro lugar, se o paciente já foi infectado pelo coronavírus anteriormente.
Um estudo publicado em 9 de agosto deste ano, no periódico Scientific Reports, reuniu 55 sintomas da síndrome pós-covid. Os 5 mais comuns foram:
- fadiga (58%);
- dor de cabeça (44%);
- dificuldade de atenção (27%);
- queda de cabelo (25%);
- dispneia (24%).
Nesse mesmo estudo, foram identificados sintomas que vão muito além dos que atingem as vias respiratórias. Veja alguns deles:
- falta de ar;
- perda de paladar;
- perda do olfato;
- falta de ar após atividade;
- tosse;
- dor no peito e desconforto;
- dor nas articulações;
- perda de memória;
- zumbido no ouvido;
- ansiedade;
- depressão;
- perda de peso;
- problemas digestivos;
- aumento da frequência cardíaca.
Como fazer diagnóstico com rapidez
Quando os pacientes ficam internados, o ideal é que o hospital explique para eles quais devem ser os cuidados após esse momento mais “crítico” da doença – sobretudo para quem ficou em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Isso torna o diagnóstico mais fácil de ser feito, uma vez que aquela pessoa já terá o histórico do hospital.
A depender das sequelas da pessoa, é possível que ela procure diretamente um especialista, como um pneumologista ou um cardiologista (que recebe as queixas de fraqueza, palpitações etc.).
Mas caso ele vá a um clínico geral ou médico de família, é importante que o profissional fique atento aos sinais e às queixas relatadas de forma geral, com uma escuta ativa. Se necessário, o mais indicado é recomendar um especialista. Isso também depende, claro, dos sintomas que o paciente trouxer. Veja alguns exemplos:
- Pneumologista
Sintomas como dificuldade para respirar, tosse em excesso, além de outras queixas respiratórias. A avaliação desses pacientes pode ser feita por meio de testes como a oximetria de pulso, a tomografia de tórax e, funcionalmente, pelo Peak Flow Test mais o teste de caminhada de seis minutos.
- Cardiologista
Sintomas como dispneia, dor no peito, falta de ar em atividades físicas, arritmias cardíacas, entre outros. Pacientes com essas queixas devem ser avaliados por ecocardiografia e/ou eletrocardiografia, por exemplo.
- Neurologista
Sintomas como dor de cabeça, perda de memória e de concentração, perda de olfato (dependendo do caso, pode também ser tratada por um otorrinolaringologista) etc. Em casos de depressão, ansiedade e insônia, a orientação pode ser ir a um psiquiatra. Além da conversa, exames de imagem podem auxiliar no diagnóstico.
- Dermatologista
As queixas de perda de cabelo são altas, além de outras alterações na pele. A condução do profissional necessita de uma avaliação de deficiências nutricionais, como vitaminas e oligoelementos, que podem potencializar os efeitos prejudiciais.
Abordagem multidisciplinar é o mais indicado
Por ser uma doença multissistêmica, o atendimento geralmente é realizado por diversos especialistas, que vão desde fisioterapeutas, pneumologistas até psicólogos e profissionais de educação física.
Juntos, eles vão entregar a melhor estratégia de reabilitação para o retorno do paciente às suas atividades habituais. O mais importante é escutar as queixas do paciente e oferecer-lhe um atendimento geral.
Pensando nisso, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) organizaram um documento com um alerta sobre as complicações da covid-19, principalmente meses após a infecção. Nesse artigo, há orientações de manejos para profissionais de saúde e autoridades nacionais.