Os jalecos de mangas compridas desde sempre são a marca registrada dos profissionais de saúde ao redor do mundo – e não servem somente para identificar essas pessoas, como também para protegê-las de possíveis intercorrências no tratamento da população. Agora, um estudo publicado pela revista acadêmica Infection Control and Hospital Epidemiology, associada à Universidade de Cambridge, questiona o uso desse tipo de modelo.
De acordo com a pesquisa, jalecos de mangas compridas, em relação aos de mangas curtas, são mais suscetíveis a serem contaminados por patógenos e, por isso, podem se tornar uma fonte de transmissão de doenças. Pela pesquisa, os jalecos de mangas curtas, por sua vez, reduziram esse risco.
O ensaio randomizado cruzado envolveu um grupo de 34 profissionais, que utilizaram um dos tipos de jaleco e luvas enquanto realizavam exames padronizados em manequins em uma cama de hospital. Tanto o tórax quanto o dorso dos bonecos estavam contaminados com um micrograma de DNA do vírus do mosaico da couve-flor – o qual infecta plantas e não é perigoso para o ser humano, mas foi escolhido para o teste por ser transmitido de maneira similar a outros patógenos que afetam a população.
O exame físico incluiu palpação e percussão do tórax e abdome e, posteriormente, do dorso, demorando cerca de dois minutos para ser finalizado. Depois desse primeiro contato, para eliminar outros possíveis fatores de transmissão, os participantes lavaram as mãos com água e sabão por aproximadamente 30 segundos e colocaram luvas limpas para realizar procedimentos parecidos em manequins não contaminados.
Os jalecos foram os mesmos durante os exames em ambas situações. Logo após essas etapas, os pesquisadores utilizaram aplicadores esterilizados para coletar amostras dos punhos e mangas dos jalecos dos profissionais da saúde, dos manequins não contaminados e também das superfícies próximas a eles. Então, foi realizado o teste exato de Fisher com o objetivo de comparar a frequência de transferência do DNA viral durante as simulações.
Os resultados são expressivos: os punhos dos jalecos de manga comprida tocaram frequentemente ambos manequins. No primeiro, o qual estava contaminado, a porcentagem de contato foi de 77% (ou seja, 26 dos 34 profissionais). Já no segundo, o não contaminado, foi de 68% (23 dos 34 profissionais). Além disso, a contaminação pelo marcador do DNA viral foi identificada com mais frequência nas mangas e/ou punhos e nas superfícies adjacentes ao manequim saudável quando os profissionais vestiam jalecos de manga comprida.
Para avaliar também a possibilidade de transferência de patógenos por meio das mangas dos jalecos em um ambiente real, grupos de médicos realizaram observações anônimas durante rondas de trabalho. Durante essa verificação, também constataram que as pontas das mangas dos jalecos de um ou mais médicos entraram em contato com os pacientes e as superfícies ao redor em 44% das interações que incluíram exame físico (ou seja, em 31 dos 71 profissionais observados). Com relação às superfícies do ambiente hospitalar mais frequentemente tocadas pelas mangas compridas dos jalecos, estão listados roupa de cama e cortinas.
Apesar das mãos dos profissionais e do compartilhamento de equipamentos portáteis serem considerados as principais vias de transmissão de patógenos (de maneira direta ou indireta) em ambientes hospitalares, o estudo traz evidências de que as mangas compridas dos jalecos também podem atuar como vetores de difusão de doenças.
Ainda existe certa resistência da comunidade médica, mas há exemplos de adesão à prática. Desde 2007, o departamento de saúde do Reino Unido instituiu a política Bare below the elbow (logo abaixo do cotovelo, em português) e recomenda aos profissionais do ramo que utilizem mangas curtas. Nos Estados Unidos, em 2014, a Society for Healthcare Epidemiology of America orientou instituições de saúde a considerar a adoção da política britânica.



















