Abrir um consultório ou uma clínica é um passo importante para os profissionais da saúde. Mas vale a pena começar essa próxima etapa em sociedade? Quais são as vantagens ou desvantagens em cada modelo de negócio?
Para Roberto Gonzalez, especialista em gestão na área da saúde na Bússola Governança, o setor de saúde mudou: um médico que deseja ter seus consultórios precisa enxergar esse desafio como um empreendedor. “Além de oferecer serviços de excelência é preciso criar estratégias e planejamentos para que o negócio seja rentável e se mantenha forte no mercado”, explica.
Parte da estratégia é refletir sofre os propósitos do profissional antes de decidir por uma sociedade. “Mesmo em sociedades familiares, como entre pais e filhos, é fundamental saber como cada um enxerga e o que pretende com a empresa, inclusive em longo prazo. Por exemplo, um sócio deseja oferecer gratuitamente parte dos atendimentos após alcançar estabilidade no negócio, enquanto o outro pretende faturar um determinado valor. A visão em curto, médio e longo prazos precisa ser discutida antes”, analisa Gonzalez.
Elementos como questões societárias, impostos a questões de cunho operacional precisam ser considerados. Para o advogado Rogério Aleixo Pereira, escolher um sócio não pode ser feito em virtude de amizade ou outro elemento que não seja o de que os sócios têm os mesmos objetivos. Outro elemento que deve ser verificado é se o sócio realmente vai contribuir com recursos e trabalho. “Há diversas situações em que o sócio está ali apenas para executar seu ofício, deixando os afazeres da administração todos nas mãos dos demais sócios. Isso acaba por sobrecarregar uma parte em detrimento da outra.”
A conduta profissional e até pessoal também são elementos a se analisar. “Profissionais abusivos, com reclamações éticas e até endividados devem ser evitados, pois o risco de ações judiciais contra a sociedade ou mesmo a dificuldade de se buscar financiamentos para a empresa por conta de sócios com dívidas são pontos que também precisam ser analisados”, observa Pereira.
Vantagens e desvantagens na sociedade
Decidir por ter um consultório próprio, sem sócio, pode significar abrir mão de dividir despesas e investimentos, ficar sem períodos mais longos de férias ou mesmo tempo para acompanhar congressos ou jornadas médicas. “Tudo isso vale a pena quando se quer ter total liberdade de decisão”, pontua Pereira.
Por outro lado, se optar por constituir uma sociedade, o profissional terá como benefícios a divisão do risco do negócio, isto é, vai dividir as despesas de constituição, instalação, funcionamento e administração. “É uma opção que traz certa segurança que, por outro lado, tem seu preço. Se constituída com sócios que realmente desejam executar um objetivo comum, com regras bem definidas de funcionamento, pode ser uma boa alternativa.”
Planejamento e rotina
Depois de refletir e optar pela sociedade em uma clínica ou consultório é importante esclarecer as regras de seu funcionamento, períodos de descanso e principalmente de distribuição de resultados (lucros) ou perdas (prejuízos). “Isto deve ser feito antes da constituição de uma sociedade. Seria como discutir um pacto antenupcial, com todas as regras de como a sociedade vai girar. Após estabelecidos os parâmetros, a sociedade é constituída e um acordo de quotistas ou acionistas é assinado”, explica Pereira.
A prestação de contas e alinhamento de objetivos deve ter regularidade constante para que o relacionamento societário seja saudável e duradouro. “Já presenciei sociedades de 20 anos acabarem por suspeitas mútuas de desvio financeiro, simplesmente porque a prestação de contas não era feita ou era pouco detalhada. Na maioria dos casos, não há desvio de faturamento, mas apenas falta de conversa e análise dos resultados mensalmente”, relata Gonzalez.
Tipos de sociedade
Os modelos de sociedade são variados, já que podem ser entre familiares, dois ou mais profissionais da saúde, por modelo de franquia ou aporte de investidor. “Se um médico deseja ter liberdade sobre o direcionamento clínico de seu negócio, talvez seja mais interessante um investidor disposto a fazer parte de gestão”, sugere Gonzalez.
Sobre os formatos legais, há a Sociedade Simples Pura, utilizada para evitar a caracterização de um grande empreendimento que terá que pagar mais impostos, a Sociedade Simples Limitada, mais tributada, porém guarda para os sócios a possibilidade de proteger mais o seu patrimônio pessoal de dívidas da sociedade; a Sociedade Limitada, que tem a mesma proteção para os sócios, mas se aplica a empreendimentos um pouco maiores; a Sociedade por Ações – SA, destinada a empreendimentos maiores, mas é mais segura. Os regimes tributários mais comuns são o do Lucro Real e o do Lucro Presumido. Também há o Simples Nacional, que vale para sociedades que tenham muitos empregados, pois as alíquotas aplicadas são muito elevadas para a atividade médica.
“Em geral, opta-se pelo Lucro Presumido, por ser um regime mais fácil de compreender e porque, dependendo da atividade, é possível adotar um Lucro Presumido Hospitalar, em que os tributos são três ou quatro vezes menores do que o de um consultório comum”, considera Pereira.