O PIB real deverá retrair cerca de 9% no segundo trimestre deste ano em relação ao primeiro trimestre, com ajuste sazonal. As manchetes do noticiário serão devastadoras, mostrando a queda abrupta do consumo das famílias e dos investimentos das empresas.
Importante lembrar que esses dados mostram o passado e escondem a recuperação da atividade econômica ocorrida nos últimos dois meses.
A redução do isolamento e os estímulos extraordinários do governo (especialmente o auxílio emergencial) possibilitaram uma forte expansão das vendas de varejo em maio, como mostra a Figura 1. Assim, o consumo já recuperou metade da queda ocorrida entre março e abril.
Figura 1: Vendas de varejo iniciou recuperação em maio.
Fonte: IBGE. Elaboração: Eduardo Yuki.
Indicadores de faturamento do varejo e confiança do comércio sinalizam que as vendas continuaram em recuperação em junho e início de julho.
Essa melhora da demanda precisa ser respondida por aumento de produção, o que também está acontecendo. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada da indústria de transformação recuperou metade da queda ocorrida no auge da crise.
Figura 2: Nível de utilização da capacidade instalada da indústria de transformação em recuperação.
Fonte: FGV. Elaboração Eduardo Yuki.
Diante da retomada da produção, a carga de energia elétrica, o fluxo de veículos pesados nas estradas e o consumo de diesel estão voltando para o mesmo patamar do ano passado. Enfim, a recuperação da atividade econômica já começou.
Nunca subestime um estímulo fiscal
A extensão do auxílio emergencial por mais dois meses aumentou o pacote de estímulos fiscais para inacreditáveis 11,3% do PIB.
A principal medida é o auxílio emergencial, que atinge 64,5 milhões de pessoas e injetará mais de R$ 250 bilhões no orçamento das famílias nesse ano, equivalente a cerca de 5,2% do gasto anual com consumo.
Utilizando dados do mercado de trabalho, estimamos que a massa salarial real reduzirá em 5,5% neste ano (demissão de 11,5 milhões de pessoas). Assim, parte relevante da queda da massa salarial será compensada pelo auxílio emergencial, como mostra a Figura 3.
Figura 3: Orçamento das famílias deve apresentar queda pequena nesse ano.
Fonte: IBGE. Elaboração: Eduardo Yuki.
Nunca subestime um estímulo monetário.
O Banco Central reduziu a taxa Selic para apenas 2,25% ao ano e adotou várias medidas de liberação de liquidez e capital ao sistema financeiro.
A principal medida foi a liberação de R$ 205 bilhões em depósitos compulsórios, o que significa maior volume de recursos disponível para os bancos emprestarem.
A recuperação da confiança dos empresários e dos consumidores ao longo dos próximos trimestres incentivará que parte desses recursos virem crédito para as empresas e as pessoas.
Figura 4: Forte expansão da liquidez monetária deverá estimular o mercado de crédito no médio prazo.
Fonte: BCB e Eduardo Yuki.
Portanto, a redução do isolamento social, o impulso fiscal extraordinário e estímulo monetário significativo devem ajudar na recuperação da atividade econômica no segundo semestre. Os dados negativos ficaram para trás. Reitero a projeção de retração do PIB real brasileiro em 4,5%, menos pessimista do que o consenso.