Apesar de representar a maioria na linha de frente contra o Coronavírus, as mulheres ainda enfrentam uma série de desafios
De acordo com o IPEA, no Brasil, a participação médica na luta contra a Covid-19 contou com a atuação e 47,5% de mulheres. Em relação à prática de enfermagem, o quadro feminino representa, aproximadamente, 85%.
Esses dados servem para nos alertar a respeito da importância da discussão relacionada ao empoderamento da mulher na medicina. Vale mencionar que, na categoria “médicos”, há diferenças importantes relacionadas a gênero.
Elas levantam o debate sobre as oportunidades de formação, sobre igualdade salarial e planos de carreira. Diante da necessidade e urgência de trazer à tona essas questões, selecionamos informações importantes sobre a feminização na medicina. Confira.
Histórico do empoderamento da mulher na medicina
Na Idade Média, as mulheres que desenvolviam práticas medicinais eram chamadas, pejorativamente, de curandeiras. Algumas, inclusive, eram condenadas à morte. Aos poucos, a atuação passou a ser reconhecida, mas com restrições.
Até o século XII, a mulher poderia atuar apenas como parteira. Vale dizer que, com o advento das universidades, ainda nesse século, somente os homens poderiam se graduar na profissão.
No século XIX, conhecido como a era da histeria, mesmo com o surgimento do conceito de hospital moderno, havia a ideia de que estudar era uma atividade perigosa para a saúde da mulher. A justificativa era a de que o conhecimento poderia afetar sua mente.
No entanto, com a eclosão do Movimento Feminista na Alemanha, em 1899, algumas faculdades de Medicina receberam inscrições de 400 mulheres. Durante a Primeira Guerra Mundial, o empoderamento da mulher na medicina passou a ser mais efetivo.
A legitimação da presença feminina na medicina surgiu diante da necessidade da substituição dos convocados para a batalha. Mas, o reconhecimento profissional, o salário e a aceitabilidade da mulher ainda eram muito inferiores do que os dos homens.
As lutas pelo acesso ao trabalho, igualdade salarial e liberdade de atuação profissional não recuou diante das imposições patriarcais. A partir dos anos 60/70, os movimentos sociais e políticos impulsionaram a presença da mulher em universidades públicas.
Os frutos dessas revoluções têm sido colhidos no século XXI. Atualmente, o empoderamento da mulher na medicina tem desmistificado todas as imposições de gênero, sobretudo em relação à área de atuação.
As escolhas não se restringem à Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia e Dermatologia, por exemplo. Para desconstruir todo imaginário da mulher frágil, materna e delicada, as mulheres estão fortemente presentes nas áreas cirúrgicas, de emergência e no desenvolvimento de vacinas e tratamentos contra a atual pandemia.
No entanto, apesar de a feminização na medicina ser resultado de séculos de lutas, ainda nos deparamos com um cenário de desigualdades que foi potencializado nesse contexto de pandemia.
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Mulheres no enfrentamento à Covid-19
Muito tem se falado sobre a linha de frente do combate à Covid-19. No entanto, dificilmente nos deparamos com perspectivas de gênero nesse contexto. Rostos, mãos e vozes femininas estão nos hospitais, recebendo pacientes nos centros de emergência.
Elas estão ocupando as funções de médicas, nutricionistas, fisioterapeutas, enfermeiras, psicólogas, enfermeiras, terapeutas ocupacionais. Do mais novo ao mais velho, elas estão cuidando.
E isso ultrapassa as esferas do maternar. Não é à toa que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU) têm levantado o debate da necessidade de conter a pandemia a partir de uma perspectiva de gênero.
De acordo com a OMS, as mulheres correspondem a 90% das equipes de enfermagem do mundo. São elas que se expõem a todas as intempéries do vírus para salvar vidas. E são elas que morrem durante essa exposição.
Em abril de 2020, o Cofen confirmou 19 mortes de profissionais de enfermagem. Desse número, 12 eram mulheres. O mesmo órgão que revelou que, dentre os afastados por testar positivo para Covid-19, 83% eram mulheres.
É a pandemia a partir de uma perspectiva feminina. Essa é a tradução da narrativa da desigualdade que traduz que a essencialidade do serviço das enfermeiras deve ser reconhecida pela sociedade e materializada pelas leis de proteção.
O empoderamento da mulher na medicina é um caminho necessário para a humanização de práticas e saberes. As faces e os nomes femininos nessa pandemia têm nos chamado para a construção de melhores condições de trabalho.
Pela essencialidade do cuidado de vidas humanas em todas as esferas, devemos falar sobre essa desigualdade que não pode mais ser ignorada.