A atividade econômica brasileira está em nítida recuperação desde maio, com a redução do isolamento social e o auxílio emergencial para os trabalhadores informais.
A redução do isolamento tem aumentado o deslocamento das pessoas para o local de trabalho e consumo, o que naturalmente beneficia a produção e a demanda.
O auxílio emergencial deverá injetar mais de R$ 250 bilhões no bolso das famílias até o final de agosto, valor equivalente a 5,5% da massa de salários de um ano inteiro. Assim, mesmo contabilizando o forte aumento do desemprego, o poder de compra das famílias deverá ficar praticamente inalterado em 2020.
Esse ambiente tem beneficiado a confiança dos consumidores e, consequentemente, as vendas de varejo estão em plena recuperação, como mostra o indicador da Cielo.
Figura 1: Recuperação do faturamento do varejo desde meados de abril.
Fonte: Cielo. Elaboração: Eduardo Yuki
A volta do consumo está impulsionando a produção nacional, o que pode ser percebido pelo aumento do nível de utilização da capacidade instalada da indústria de 57% em abril para 72% em julho.
Figura 2: Utilização da capacidade instalada da indústria recuperou 80% da queda ocorrida no auge da crise.
Fonte: FGV. Elaboração: Eduardo Yuki.
Enfim, a atividade do primeiro semestre não caiu tanto quanto as previsões mais alarmistas haviam sugerido há algumas semanas.
Para o segundo semestre, destacamos três fatores que ajudarão a sustentar a recuperação da produção nacional:
- O excesso de pessimismo no início da crise levou várias empresas a cortar drasticamente a produção para um patamar abaixo da demanda. Esse movimento reduziu os estoques. Assim, as empresas precisarão produzir um pouco acima do nível de consumo para recompor parte dos estoques nos próximos meses.
- As famílias utilizaram cerca de metade dos recursos do auxílio emergencial para consumo nos últimos meses. Isso gerou aumento de poupança, que ajudará na sustentação do consumo após o fim do benefício. Aliás, provavelmente, parte do auxílio será estendido até o final do ano.
- A redução da taxa Selic para 2% e as medidas de liberação de liquidez pelo banco central devem impulsionar o mercado de crédito ao longo dos próximos trimestres. Aliás, a concessão de crédito para pessoa física já voltou a expandir em junho.
Dessa forma, o processo de recuperação da atividade persistirá ao longo dos próximos meses. Naturalmente, o ritmo de melhora será cada vez mais gradual à medida que estivermos mais próximos do patamar anterior da crise.
O problema é que não existe almoço grátis. A partir do próximo ano, precisaremos realizar uma forte contenção de gastos do governo para cumprir a Emenda Constitucional do Teto de Gastos e manter a nossa solvência fiscal. Essas medidas deverão conter o ritmo de crescimento da atividade ao longo de 2021.
Portanto, a recuperação da atividade econômica é inquestionável e continuará nesse semestre. O risco é o governo não conseguir realizar o necessário ajuste das contas públicas nos próximos anos, o que elevaria o custo de financiamento de todo o País.