A atividade econômica brasileira apresentou desempenho acima do esperado no início do ano, apesar das medidas de isolamento social adotadas na maior parte do País. Não podemos extrapolar as boas notícias recentes para os próximos trimestres, pois temos vários desafios pela frente.
O IBC-Br, indicador do Banco Central que mensura a produção nacional, cresceu 2,3% no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre do ano passado. O IBGE anunciou que a produção de serviços expandiu 2,8% no mesmo período. Além disso, a indústria recuou apenas 0,4%.
O bom desempenho da produção não foi acompanhado pela demanda doméstica. As vendas de varejo caíram 3,9% e o consumo de serviços pelas famílias despencou 6,3% no trimestre passado. Também existem sinais contundentes de queda do investimento das empresas.
Essa discrepância entre o aumento da produção e a queda do consumo gerou um forte ciclo de recomposição de estoques. Esse processo não pode ser duradouro, afinal estoque significa dinheiro parado.
Além disso, existem alguns desafios que impedirão forte crescimento da atividade no restante do ano. Os principais obstáculos das famílias são:
- O poder de compra pessoal deve diminuir em mais de 7% neste ano, com a redução do auxílio emergencial (de R$ 322 bilhões em 2020 para R$ 44 bilhões em 2021), recuperação apenas gradual do mercado de trabalho e o forte aumento dos preços de alimentos, combustíveis e energia elétrica (deflator do consumo deve ficar em quase 7% neste ano).
- As famílias estão muito endividadas e, consequentemente, o comprometimento de renda com serviço da dívida (pagamento de juros e amortização) está em 31%, maior patamar histórico, ou seja, está sobrando menos dinheiro para consumo.
Todos esses fatores sustentam a estimativa de fraco desempenho do consumo das famílias nos próximos trimestres.
Do lado das empresas, existem várias incertezas que prejudicam as decisões de investimentos e a contratação de novos trabalhadores, a saber:
- O forte aumento do preço de commodities no mercado internacional continua pressionando os custos de produção de bens industrializados. A fragilidade financeira das famílias prejudica o repasse desse aumento de custos para o consumidor, o que reduz a margem operacional dessas empresas.
- A incerteza sobre o rumo político e eleitoral também levam muitos setores a postergarem seus investimentos.
- O baixo volume de chuvas nos últimos meses levou o nível dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e Centro Oeste para apenas 33% da capacidade na semana passada, substancialmente abaixo da média histórica de 64% para o mês de maio. Lembrando que estamos apenas começando o período de seca, o acionamento das usinas térmicas manterá o preço da energia elétrica muito alto ao longo do ano. A possibilidade de alguma medida restritiva de consumo de energia não pode ser descartada.
Portanto, a produção do primeiro trimestre acima do esperado deve ser comemorada com cautela. A expectativa de um desempenho modesto da atividade no médio prazo possui muitos riscos negativos, que podem deteriorar sensivelmente o ambiente econômico.