A rotina do profissional de saúde pode ser bem intensa. São horas seguidas de trabalho, com pouco espaço para descansar e, muitas vezes, poucas horas de sono.
Neste cenário, todas as investidas para gerar bem-estar são válidas – e viajar tem sido uma alternativa crescente no mundo todo. “Conhecer culturas e pessoas diferentes pode ser extremamente benéfico para profissionais da saúde, pois pode trazer, mesmo que momentaneamente, distanciamento dessa realidade”, afirma Marcelo Alves dos Santos, professor de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas.
Foi o que experimentou a psiquiatra Lais Andrade, que cultiva o hábito de viajar há quatro anos. Para ela, conhecer novas realidades é sinônimo de abrir-se à complexidade do mundo e ampliar seu campo vivencial, estimulando a mente de diversas formas. “Viajar é mais do que um prazer. É uma necessidade, é terapêutico. Lido diretamente com o sofrimento das pessoas. Isso é gratificante, mas também é pesado. Então, preciso de pequenos escapes da rotina para proteger minha saúde mental e poder trabalhar”, conta.
Os efeitos que a psiquiatra sentiu em sua prática médica se estendem para outros profissionais da área da saúde, que também podem ter na viagem um refúgio para lidar com a rotina exaustiva. A seguir, especialistas explicam como a atividade pode beneficiar o exercício profissional.
Aumentar a empatia pelos pacientes
Este foi um dos efeitos mais sentidos por Andrade, que lida de maneira mais intensa com a dor psicológica por conta de sua especialidade. “Quando viajo, conheço inúmeras pessoas. Cada encontro é uma troca valiosa, e minha profissão é justamente estabelecida através do encontro, da escuta e da troca com o paciente”, frisa. “Você se torna mais tolerante, educado, solidário”, completa. No entanto, a empatia é crucial para qualquer profissional da área da saúde.
Ao conhecer novas culturas – mesmo viajando dentro do Brasil, um País cujos estados são tão distintos entre si –, os profissionais ampliam sua percepção sobre o outro e aprendem mais sobre si mesmos. “Esse aprendizado é muito importante, visto que nós atuamos com público heterogêneo e precisamos fortalecer a competência na área da comunicação para atender bem”, justifica Rita Calegari, psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
Melhorar a produtividade
O aprendizado e a troca de experiências propiciados pela viagem trazem um refresco à mente, que muitas vezes está sobrecarregada de informações. “No retorno às atividades, com a mente renovada, é comum que a criatividade esteja aguçada e a motivação fortalecida, o que impacta muito na produtividade”, explica Calegari.
Tirar o peso da profissão (mesmo que por alguns dias)
Em viagens, deixamos o papel de profissional de lado para sermos apenas viajantes, desdobrando papéis que são pouco ou nada explorados no dia a dia. Essa experiência faz com que médicos, enfermeiros, psicólogos ou qualquer outro profissional da área se destituam da posição de cuidador – e todo o status e poder que ela pode conferir. “Tornamo-nos apenas pessoas, viajantes e eternos aprendizes”, reflete Calegari.
Fortalecer-se como ser humano
Indo além da profissão, aventurar-se – mesmo que brevemente – também é fator de mudança na vida pessoal. Andrade conta que as viagens marcam os melhores e também os mais difíceis momentos de sua vida. “Viajo para relaxar, para comemorar e também para me conhecer, refletir, tomar decisões e elaborar lutos. Viajar para mim é uma das melhores formas de transformação e fortalecimento subjetivo”, confidencia.
“O crescimento pessoal é individual e se dá de várias formas, mas estar aberto ao conhecimento, mesmo em uma viagem curta, trará algo novo, tanto para sua vida profissional como pessoal”, defende o professor de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas, que também pontua como essa atividade é importante no seu desenvolvimento, forma de atuar e em sua visão de mundo.
Sair da zona de conforto
Viajar tira o corpo e a mente da rotina, conduzindo ao desconhecido e inesperado. Isso exige mais do cérebro, que terá que superar novos desafios – desde pedir o almoço em outra língua até ser confrontado por uma cultura completamente diferente da sua. Isso nos mostra que é possível viver de outro jeito que não o nosso, nos despindo de nossos hábitos, comportamentos e manias.
“Com o retorno à rotina, voltamos com certezas que antes não tínhamos e até com respostas de perguntas que não sabíamos fazer para nós mesmos. E dificilmente retomamos a rotina exatamente como era antes: há sempre um aprendizado ou uma conquista que fazemos questão de incorporar aos nossos hábitos”, expõe a psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo.
Aproveitando os benefícios
Nenhuma dessas benesses, de fato, ocorrerá se você não se entregar a essa oportunidade. É comum encontrar profissionais que viajam, mas mantêm a mente em sua agenda e compromissos. Isso prejudica a imersão no novo contexto. Portanto, é importante concentrar-se no aqui e agora, conectar-se ao ambiente e às pessoas, tentar enxergar a vida pelos olhos de outras culturas – sem julgamentos – e abrir mão do controle.



















