Sobre as variações do significado da palavra discurso, no sentido não etimológico, mas naquele que sua mensagem realmente desencadeia ações para os circunstantes (ouvintes), vem ocupando matéria para artigo/ensaios de diversos pensadores e filósofos no decorrer dos séculos. Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) tratou disso; Rousseau (1712-1778) abordou o tema sob o olhar dos fundamentos da desigualdade; Michel Foucault (1926-1984) analisou sob o ângulo da comunicação; e Trask (1944-2004) desdobrou o sentido da palavra em dicionário de Linguística. Só para citar alguns.
Para o homem comum, não afeito à busca de profundidade dos termos ou de seus significados intrínsecos, discurso é simplesmente aquela oração pronunciada pela mesa diretora, por convidados ou autoridades, em eventos comemorativos e, principalmente, por políticos em suas campanhas eleitorais. Discurso é o que pronunciam os deputados, senadores, ministros, presidentes diante de um microfone, destinado aos públicos, que aguardam as promessas e os destinos que lhes estão sendo reservados.
Não é desse tipo de discurso que trataremos, nem tampouco das intenções possíveis para cada um deles, mas sim da “exposição metódica de um conjunto de ideias organizadas por meio da linguagem, para influir no raciocínio do ouvinte” (a melhor definição que encontrei). E para que isso aconteça, como deve ser o propósito do discurso (verbalmente pronunciado ou escrito), é necessária a persuasão ou o convencimento da verdade dos argumentos expostos. Persuadir significa convencer, habilidade fundamental para a obtenção de resultados fins, – e até mesmo, para justificar meios -, como formação de parcerias estratégicas.
Se falarmos em discurso, sob o ângulo da retórica ou da oratória, aliado à persuasão, é imprescindível citar Marco Túlio Cícero (106 a.C. – 43 a.C.), maior orador da Roma Antiga, ainda no Século I antes de Cristo. O discurso de Cícero nasce a partir da comunicação do próprio orador em relação àquilo que defende. Por isso, o discurso deve conter palavras claras, objetivas, honestas e argumentos sólidos que convençam ser aquela a melhor alternativa, transmitindo confiabilidade na maneira de falar ou escrever. Do contrário soará falso e corre o risco de ser ridicularizado.
Para ser persuasivo é preciso estar munido de argumentos e fatos concretos, embasados na solidez de propósitos, ter capacidade de convencimento. Sempre o orador deve ser o primeiro a estar convencido de sua pregação, para que seja dado o passo adiante pelos seus seguidores, no sentido de agregar o maior número de pessoas em favor da causa pretendida.
A arte de persuasão não se limita a palavras bonitas ou a discursos ensaiados. A inflexão da voz, o olhar dirigido à plateia em sua plenitude, a ênfase na ideia fundamental, a repetição do que deve ser gravado, a ordenação escalonada dos conceitos repassados e o final conclusivo que torne a mensagem duradoura são fatores fundamentais para atingir o convencimento. Sem isso, o discurso é vazio e cairá no esquecimento.