Exames de rotina, “check-up” e rastreamento são termos consagrados tanto no meio médico quanto para uma boa parte do público “leigo” (cada vez mais a linha que separa o “especialista” e o “leigo” será tênue). Há algumas confusões que valem a pena ser retomadas.
Os exames laboratoriais ou de imagem são sempre complementares. Ou seja, deveriam vir após uma conversa ou anamnese. Isso não é diferente para os exames de “rotina”. Eles levam essas denominações pois são realizados sem um sintoma ou sem que se pretenda fazer uma investigação clínica específica.
Quando se faz um exame, como o de glicemia, se está respondendo a uma pergunta do tipo: “esta pessoa tem diabetes ou tem risco de virar diabético?” Porém, pode passar despercebido que as perguntas e exames realizados pelos profissionais também têm relevância na avaliação do risco à saúde. Por exemplo:
– Você fuma? – pergunta que avalia risco de câncer de pulmão e doenças cardiovasculares;
– Como é a saúde dos seus pais? – pergunta que avalia doenças com potencial hereditário, como diabetes e alguns tipos de tumores;
– Avaliar o peso – exame que avalia risco de obesidade e outros problemas de saúde;
– Medir a pressão – exame que avalia risco de problemas cardiovasculares.
Ou seja, perguntas e exame físico também fazem parte do que se convencionou chamar “exames de rotina”. Há uma certa mitificação quanto aos exames laboratoriais e alguns “check-ups” chegam até a colher sangue antes de a pessoa conversar com algum profissional de saúde. Porém, cada pessoa tem um conjunto de perguntas, exames físicos e laboratoriais próprios. As perguntas, incluindo idade, ajudam a direcionar o exame físico e esses dados guiam os exames laboratoriais – que são individuais -, quando necessários.
Há tabelas por sexo e faixa etária que sugerem um conjunto de exames, mas não são tabelas de decisão e é possível priorizar alguns, incluir outros ou mesmo excluir procedimentos considerados não relevantes para determinada pessoa, como, por exemplo, quando já realizou aquele exame há pouco tempo.

Dada a complexidade do tema, a instituição independente US Preventive Services Task Force (USPSTF) se dedica a estudar e publicar recomendações de medidas preventivas e é a instituição de maior reputação nesta área no mundo, dentre outros motivos, por não ser financiada pela indústria farmacêutica, mas sim pela Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ). Há um aplicativo disponível com as sugestões de medidas preventivas por faixa etária, sexo e certas condições como gravidez e tabagismo. Os aplicativos estão disponíveis em https://epss.ahrq.gov/PDA/index.jsp ou nas lojas dos celulares e as recomendações podem ser acessadas em https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/Page/Name/recommendations. Vale ressaltar que são recomendações e o ideal é conversar com um profissional generalista para que seja buscada uma estratégia preventiva personalizada.
A periodicidade das avaliações “de rotina” em geral carece de fundamento científico e é mais comum uma recomendação exagerada, em especial para pessoas saudáveis, do que comedida. Uma revisão de inúmeros estudos realizada pela Cochrane concluiu, em 2012, que idas frequentes a médicos para exames de “rotina” (quando não se tem um sintoma ou uma preocupação específica) tinham pouca utilidade para diminuir a mortalidade ou mesmo para prevenir câncer e doenças cardiovasculares. A provável razão é que nada substitui hábitos saudáveis, como não fumar, alimentação balanceada e atividade física. A solução está dentro de cada um.