Paralisação dos procedimentos durante a pandemia podem prejudicar as finanças das clínicas. Especialistas dão dicas para sobreviver neste período.
A crise econômica que eclodiu com pandemia do novo coronavírus afetou empresas de todos os segmentos. Dados do boletim de impactos e tendências da COVID-19 do Sebrae, divulgado em 29 de maio, mostram que o faturamento médio dos pequenos negócios no segmento de saúde apresentaram queda de 61%.
Apesar do crescente número de pessoas diagnosticadas com COVID-19 e mais de 11 mil vidas interrompidas, o governo do Estado de São Paulo iniciou o Plano SP de reabertura econômica.
As flexibilizações consideram a taxa de ocupação dos leitos de UTI e a disponibilidade dos leitos por 100 mil habitantes. Além dos números de casos, internações e óbitos para classificar as 17 regiões administrativas do estado em fases, que são divididas por cores: vermelho, laranja, amarela, verde e azul.
- Fase 1- vermelha: apenas os serviços essenciais possuem permissão para funcionar;
- Fase 2 – laranja: permite a abertura de shoppings, comércios e alguns serviços com restrições de horários e capacidade de pessoas;
- Fase 3 – amarela: além dos comércios, permite o funcionamento dos salões de beleza, barbearias, bares e restaurantes com restrições;
- Fase 4- verde: libera a retomada dos comércios, incluindo academias com restrições;
- Fase 5- azul: liberação de todas atividades econômicas seguindo os protocolos sanitários.
Para a reabertura, de acordo com classificação do município, todos os estabelecimentos devem adotar o protocolo intersetorial seguindo as orientações de distanciamento social, higiene pessoal, limpeza e higienização dos ambientes, comunicação e o monitoramento das condições de saúde.
Segundo informações do Governo, divulgadas no site do Plano São Paulo, as prefeituras devem determinar se e quando cada um dos setores poderão retomar o atendimento presencial ao público, de acordo com a fase de classificação do município.
Ademais, as prefeituras também podem definir o grau de intensidade das restrições, ou seja, podem ser iguais às recomendadas pelo Governo do Estado ou mais rígidas.
O Plano São Paulo será reavaliado semanalmente para determinar se as regiões podem reabrir ou fechar os setores da economia. Embora as cidades estejam entre as fases vermelha, laranja e amarela, a quarentena no Estado continua até o dia 28 de junho.
Em nota, divulgada em 22 de maio, o Conselho Federal de Medicina (CFM) orienta que cada Conselho Regional de Medicina (CRM), no âmbito de sua jurisdição, deverá autorizar ou não procedimentos eletivos – consultas e cirurgias– nas redes pública e privada, comunicando a decisão às autoridades, aos médicos e à população.
Como recuperar as receitas da clínica?
Por consequência da pandemia, algumas especialidades médicas tiveram que adiar consultas e outros procedimentos. Com as operações suspensas ou a falta de demanda, por conta do isolamento social e o medo de contaminação, a receita das clínicas e consultórios pode diminuir e dificultar o pagamento de todas as despesas, incluindo a folha de pagamento dos funcionários.
Para saber o que fazer e sobreviver a tempestade, os gestores precisam ter planejamento e novas estratégias para continuar funcionando.
“Em um cenário como este, é importante que o profissional de saúde mantenha o contato com seu cliente e adote modificações em termos de gestão. De um lado, é bastante difícil reverter as receitas no curto prazo; de outro, abre-se uma oportunidade para que os empresários repensem seu modelo de gestão”, afirma Edson Barbero, coordenador do Centro de Empreendedorismo da FECAP.
Faça um raio-x das finanças da clínica
O orçamento e planejamento financeiro são primordiais para gerir qualquer negócio, mas é necessário revisar os custos e as projeções para entender quais despesas podem ser cortadas, reduzidas ou negociadas.
Victor Corazza Modena, professor de pós-graduação em empreendedorismo na IBE Conveniada FGV, diz que o planejamento possibilita uma gestão mais tranquila e os gestores que já fazem isso terão uma surpresa menor do que os empresários que não sabem os horizontes esperados.
“O planejamento é importante em qualquer época. Entretanto, em períodos de indefinições, como a que estamos vivendo, essas atitudes são ainda mais recomendadas. Enxergar as oportunidades na crise é um divisor de águas, sejam estas oportunidades relacionadas às linhas de crédito ou novas formas de atendimento”, afirma.
Como diminuir os custos?
Para saber como reduzir, coloque todos os gastos na planilha, avalie cada custo e sua necessidade para o atual momento da clínica ou consultório. “Quando não puder pagar avise e negocie também. Se sua estrutura ficou grande, não fique com receio de readequá-la. Seja frio e pragmático, mas não com as pessoas”, diz Carlos Honorato, professor da Saint Paul Escola de Negócios.
Os gestores podem negociar aluguéis, financiamentos em bancos, preços e prazos de pagamentos com os fornecedores.
Segundo Corazza, a boa relação com os fornecedores e as instituições bancárias são essenciais para renegociar os custos. “A grande dificuldade enfrentada pelos profissionais de saúde que possuem o próprio espaço é ser gestor sem entender de administração de empresas. Nestes momentos, o relacionamento pode ser fundamental para conseguir negociar parcelas e prazos”, avalia.
Melhorias na clínica podem trazer os pacientes
A tecnologia é uma grande aliada da saúde e os gestores podem contar com ela para manter seus negócios funcionando, melhorar as operações e fidelizar a base de pacientes.
Pense em fazer dos limões uma limonada e aproveite o período para aprimorar o atendimento, revisar os dados dos pacientes, adotar novas tecnologias e melhorar as formas de comunicação com os clientes, seja por mensagens de aplicativos ou telefone.
Barbero acredita que os gestores devem intensificar o olhar para os serviços de telemedicina. “A regulamentação traz à tona uma nova modalidade de atendimento dos pacientes, que pode conferir ganho de produtividade e melhoria no acolhimento, visto que o profissional de saúde poderá adotar uma postura mais presente e proativa na vida do seu paciente”, explica.
Ele ainda acredita que o setor de saúde pode sair, de um modo geral, fortalecido após a pandemia e entre os palpites está o aprimoramento da estrutura médico-hospitalar. “É esperado que após a pandemia, o consumidor mude alguns comportamentos de compra, e dentre eles, o uso de serviços médicos, como o uso mais frequente da telemedicina. O novo hábito fará com que o setor de saúde se torne mais preparado em oferecer suporte ao seu cliente de maneira eficiente”, diz.
Todavia, Corazza alerta a implementação da telemedicina pode ser complicada para algumas especialidades e outras soluções têm se destacado no segmento de saúde, como estabelecer rodízio de profissionais nas clínicas e limitar a circulação de pacientes nos espaços para evitar as aglomerações e o contato mais próximo.
“Não há uma fórmula do sucesso. Cada clínica deve ser tratada com suas particularidades. A aplicação de métodos ágeis podem trazer ótimas soluções para os problemas vividos”, diz.
Seja cauteloso com as linhas de crédito
Para atravessar o período de pandemia da COVID-19, foram anunciadas várias linhas de crédito para ajudar pequenos negócios. No entanto, é preciso ter cautela antes de pegar um empréstimo para não acabar com uma dívida colossal.
“A economia brasileira possui altos juros, ainda que, em um momento como o atual, os créditos ofertados por órgãos estatais estejam com taxas menores do que as habituais. Portanto, a recomendação é para que se busque, inicialmente, a renegociação de dívidas para aliviar a gestão do caixa. Em casos de maior pressão financeira, recomenda-se uma avaliação detalhada e negociação para conseguir uma linha de crédito com juros menores”, destaca Barbero.
No caso de precisar recorrer a um empréstimo, faça todas as contas para entender quais são as suas necessidades, avalie os juros, negocie e fique atento ao prazo – considere que o cenário é de incertezas e não há previsão de alguma normalidade –, o valor e montante das parcelas deve estar de acordo com a sua capacidade financeira.
De acordo com Corazza, os empresários costumam fazer empréstimos para pagar despesas que mantém o negócio funcionando e não pensam em investimentos no próprio negócio.
“É necessário pensar nos próximos meses para que o empresário, seja ele médico ou qualquer outro profissional, não se veja na mesma situação de quando pegou empréstimo pela primeira vez. Investir e trazer retorno ao dinheiro emprestado é fundamental para que o gestor não inicie o efeito bola de neve, saindo e entrando em novas dívidas sucessivamente”, conclui.