Um dos equipamentos fundamentais para o tratamento de pacientes infectados pela COVID-19, os respiradores começam a provocar mudanças na linha de produção de empresas dos mais diversos segmentos.
Em diversos países, médicos se uniram a engenheiros e designers para criar protótipos de respiradores que podem ser produzidos em impressoras 3D. A ideia é fabricar equipamentos de baixa complexidade, mas que podem salvar vidas. A vantagem da técnica de impressão 3D é que permite a manufatura, de modo real, de qualquer desenho feito no computador, o que provoca grande versatilidade numa produção local.
No Brasil, vários grupos se mobilizam para encontrar soluções criativas para driblar a escassez de respiradores e outras ferramentas que possam contribuir para o combate ao coronavírus . Entre eles estão pesquisadores à frente de startups e de laboratórios das universidades do Rio de Janeiro (UFRJ), de São Paulo (USP), Campinas (Unicamp) e do Instituto Mauá de Tecnologia, entre outras instituições de educação.
A Petrobras anunciou ter mobilizado sua impressora 3D para produzir componentes do protótipo de ventilador mecânico desenvolvido por engenheiros e biomédicos da UFRJ. Os aparelhos começarão a ser testados em pacientes em abril. De acordo com o professor Jurandir Nadal, chefe do Laboratório de Engenharia Pulmonar e Cardiovascular da Coppe, instituto de pesquisa ligado à universidade, é um equipamento simples e seguro, porém emergencial, que deve ser utilizado somente quando não houver um equipamento padrão disponível no hospital.
A Merdedez-Benz foi mais uma que divulgou que já começou testes para a produção de respiradores de baixo custo com impressoras 3D. A iniciativa conta com parcerias do Instituto Mauá de Tecnologia e USP.
A corrida contra o tempo é dramática porque os modelos precisam passar por várias etapas para medir eficiência e segurança até obterem a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Conforme as pesquisas evoluem, são feitas adaptações aos aparelhos
Patrocínios e apoios
Todos os projetos contam com mão de obra voluntária, doações e patrocínios. No caso da versão de ventilador mecânico desenvolvida pela Coppe/UFRJ, uma das mais maduras atualmente, a apresentação detalhada do projeto está disponível na página Ventilador Pulmonar de Exceção para COVID-19, na qual é possível saber detalhes técnicos, necessidades futuras, colaboradores atuais e outras informações. O site disponibiliza também uma ficha de cadastro para potenciais colaboradores.
O protótipo desenvolvido na Escola Politécnica da USP, chamado de Inspire, deve custar cerca de RS 1 mil para ser produzido, enquanto os modelos convencionais de respiradores à venda no mercado são vendidos a R$ 15 mil, em média, segundo o professor Marcelo Knorich Zuffo, da Poli-USP. O modelo foi registrado com uma licença open source, ou seja, qualquer pessoa interessada pode acessar o passo a passo de manufatura no site do projeto e fabricar o respirador. A exigência é obter a autorização da Anvisa. No site também existe a possibilidade de contribuir com as pesquisas. A vaquinha online já arrecadou mais de R$ 160 mil.
O governo também resolveu investir em iniciativas que busquem soluções para a pandemia. Em caráter emergencial, a Finep, empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), e a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) lançou recentemente um chamamento público conjunto no valor de R$ 20 milhões (R$ 10 milhões provenientes de cada instituição) para apoiar projetos de pesquisa com o intuito de desenvolver tecnologias para enfrentar a nova doença.
No mundo
Há iniciativas semelhantes em diferentes países. O governo espanhol já autorizou indústrias que possuam impressoras 3D a ajudarem na fabricação de respiradores. A gigante Airbus, do setor de aviação, prontificou-se a contribuir. De acordo com o jornal The Guardian, o governo britânico também tem conversado com indústrias para o mesmo fim. A Jaguar Land Rover já teria aceitado o pedido de ajuda.
O médico Oriol Roca, que trabalha no serviço de medicina intensiva do Hospital Vall d’Hebron, em Barcelona, declarou à emissora BBC News que acha válida a construção de respiradores rapidamente, a partir de impressoras 3D. “Podem responder a uma situação de pandemia com garantias de ventilar certos pacientes por um curto período de tempo.”