Apesar da luta de diversos movimentos, como o Body Positive – que defende a promoção de uma imagem corporal positiva -, padrões de beleza restritivos ainda bombardeiam a população. Somado a isso, estão outras questões psicológicas, padrões alimentares e até mesmo tendências biológicas individuais e tem-se um ambiente propício ao desenvolvimento de transtornos alimentares.
De acordo com o psiquiatra Eduardo Aratangy, do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (IPq-HC-FMUSP), os mais comuns são o transtorno da compulsão alimentar, bulimia nervosa e anorexia nervosa. No entanto, existem outros que, infelizmente, estão ganhando espaço, como a ortorexia – obsessão pela dieta saudável – e drunkorexia – quando pacientes ingerem álcool no lugar de alimentos para emagrecer e potencializar o efeito da bebida.
“Os grupos mais afetados pela anorexia e bulimia são adolescentes de 13 a 20 anos, em sua maioria mulheres. Para transtorno de compulsão alimentar, a distribuição é mais próxima entre os gêneros e diferentes faixas de idade, sendo um quadro mais insidioso”, afirma.
Descobrir para prevenir
Detectá-los não é uma tarefa simples. Por isso, cabe aos profissionais de saúde – especialmente psiquiatras, pediatras, clínicos, nutrólogos, dermatologistas e nutricionistas – estarem atentos aos sinais que os pacientes possam dar, mesmo que não verbalizem.
Há uma linha tênue que separa o desejo por um corpo saudável ao comportamento de risco. “Estamos diante de um transtorno alimentar quando há danos à saúde, sofrimento psíquico e prejuízo nas atividades cotidianas causados pela obsessão pela alimentação ou corpo”, diz Aratangy.
Segundo o psiquiatra, alguns comportamentos sugestivos devem ser vistos com muita cautela, tais como:
- Oscilações de peso;
- Preocupação excessiva com peso, alimentos, calorias e forma corporal;
- Fazer dietas extremas;
- Ficar longos períodos em jejum;
- Comer de modo compulsivo;
- Exercitar-se demais;
- Usar remédios sem indicação adequada para perder peso;
- Vomitar de propósito após comer;
- Deixar de participar de atividades de lazer;
- Prejuízos nos relacionamentos e nas atividades cotidianas.
Também pode-se observar questões como comorbidade psiquiátrica, histórico familiar de transtorno alimentar, baixa autoestima, perfeccionismo e até mesmo alterações na dinâmica familiar.
No entanto, nem sempre o paciente revela esses sintomas, cabendo ao profissional se atentar. Um dos métodos mais utilizados é a análise do Índice de Massa Corpórea (IMC). “O fato de um paciente apresentar baixo IMC e apresentar sinais de que não está satisfeito com peso já é suficiente para encaminhá-lo para o psiquiatra, que é quem confirmará o diagnóstico”, aponta a nutricionista Ronimara Santos, da clínica BIOMais Saúde.
Sintomas como o famoso efeito sanfona e aquele impulso irresistível de comer um bolo inteiro de uma vez – que muitos pacientes encaram com normalidade – também devem ser vistos com cautela. “No meu consultório, encontro com maior frequência pessoas acima do peso com compulsão alimentar”, revela a nutricionista.
A partir do momento em que o transtorno é diagnosticado, é preciso contar com uma equipe multidisciplinar especializada. “No caso da compulsão alimentar, por exemplo, precisamos identificar o gatilho do comportamento compulsivo. O que a pessoa está procurando quando come um bolo inteiro? Vamos ajudar essa pessoa a melhorar a imagem corporal, fazer trocas alimentares e, se necessário, o médico entrará com medicações”, finaliza.