O momento de comunicar o diagnóstico de câncer é muito delicado, tanto para os pacientes quanto para os próprios profissionais. Receber essa notícia tem um impacto marcante sobre o paciente. Para que o tratamento possa correr bem dali em diante é fundamental que o médico consiga tranquilizá-lo e esclarecê-lo de forma eficaz.
A condução do tratamento, portanto, está muito relacionada à clareza na comunicação entre médico e paciente. E o respeito ao seu direito à informação e verdade é fundamental nesse processo – assim como a sensibilidade. “A verdade deve ser passada sempre ao paciente, mas com compaixão e cuidado para que a esperança não seja retirada, levando-o a adotar uma atitude negativa em relação ao enfrentamento da doença”, explica Clarissa Mathias, oncologista Diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Um ponto importante nessa discussão diz respeito à pouca orientação recebida pelos profissionais da saúde em sua formação acadêmica sobre como lidar com essas situações. “Dificilmente há um treinamento específico para a comunicação com os pacientes e esse aprendizado acaba vindo da prática, por erros e acertos ou modelos”, explica Mariana Laloni, coordenadora médica de oncologia do Hospital Paulistano.
Pensando nisso, as profissionais dão orientações de como melhorar a abordagem e a transmissão de informações ao paciente durante o tratamento.
Como trabalhar a comunicação
Mariana coloca que o primeiro passo na comunicação do diagnóstico de câncer deve ter seu foco na tranquilização do paciente. “É preciso deixar claro que aquele é um diagnóstico e não uma ’sentença de morte’. Mesmo a medicina tendo avançado muito, ainda há um preconceito grande em relação à doença, inclusive na área médica. Muitas pessoas são levadas a acreditar que irão, de fato, falecer. Por isso, é tão importante tentar acalmá-las.”
O segundo momento passa por tentar entender o que o paciente já compreendeu sobre a doença e qual é o seu contexto de vida. Esse é um passo importante para se conectar com o seu universo e verificar qual é a melhor maneira de se comunicar com ele. “Pessoas têm diferentes culturas, histórias, graus de instrução. Não existe uma fórmula mágica para a construção da relação médico-paciente, por isso, é preciso entender cada um”, explica Mariana.
Depois de criar essa ligação, é hora de inserir informações adicionais e explicar as suas possibilidades de tratamento. Essas informações podem, muitas vezes, ser passadas de forma gradual, respeitando o tempo e o desejo de cada pessoa. “O mais importante é estar disponível e mostrar ao paciente que ele pode contar com um profissional experiente e que tem como único objetivo fazer com que ele se sinta melhor”, afirma Clarissa.
Para que o paciente não se sinta desamparado ao receber notícias ruins, seja de diagnóstico ou tratamento, é importante que elas venham acompanhadas de possíveis “próximos passos”, destaca Mariana. “Para que o paciente não perca as esperanças, o profissional deve provê-lo de ‘ferramentas’ para lutar contra a doença, apontando possíveis soluções.”
Nesse processo, as especialistas enfatizam que a presença de uma equipe multidisciplinar – que englobe, por exemplo, psicólogos, psiquiatras, enfermeiros e fisioterapeutas – treinada para oferecer uma visão complementar do caso, pode ser fundamental para a acolhida do paciente e sucesso do tratamento.



















