Anualmente, é realizada a cerimônia do Prêmio Nobel, uma das principais premiações mundiais de reconhecimento aos que desenvolvem trabalhos de referência à humanidade.
Para isso, o prêmio é dividido em cinco categorias: química, física, fisiologia ou medicina, literatura e paz. Os vencedores ganham um diploma, uma medalha de ouro de 18 quilates e uma quantia de 8 milhões de coroas suecas (aproximadamente 800 mil dólares).
Para entrar na lista, os comitês de cada área enviam cartas para professores, especialistas e cientistas pedindo indicações – eles recebem entre 200 e 300 indicados por ano.
Após a decisão final das categorias, somente o vencedor é anunciado publicamente. Os indicados que não forem premiados só podem ter seus nomes revelados oficialmente após 50 anos.
Quem foram os vencedores do Prêmio Nobel de Medicina deste ano?
Os ganhadores foram o norte-americano David Julius, professor da Universidade da Califórnia em San Francisco (EUA) e o libanês-americano Ardem Patapoutian, cientista e professor na Scripps Research, Califórnia, e pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes, em Maryland, desde 2014.
Os dois cientistas realizaram achados sobre receptores de temperatura e toque no corpo humano. Isso explica como o calor, o frio e o toque podem causar sinais em nosso sistema nervoso – algo que pode ser útil para o tratamento de diversas doenças, segundo o comitê.
Entenda o estudo e sua importância
O tema da dupla já era estudado desde o século 17, mas uma dúvida seguia pairando: como a temperatura e os estímulos mecânicos são convertidos em impulsos elétricos nos sistema nervoso? Os dois cientistas, enfim, conseguiram a resposta.
Por volta de 1990, Julius utilizou a capsaicina, composto da pimenta responsável pela sensação de ardor, para identificar um sensor nas terminações nervosas da pele que responde ao calor. Para isso, o professor criou uma biblioteca de milhões de fragmentos de DNA que correspondem a genes atrelados à dor, ao calor e ao toque.
Foi identificado, então, um único gene capaz de tornar as células sensíveis à capsaicina, mais tarde denominado de TRPV1. Quando Julius investigou a capacidade da proteína de responder ao calor, ele percebeu que havia descoberto um receptor sensor de calor que é ativado em temperaturas sentidas como dolorosas.
Experimentos mostraram que esse gene codifica a proteína TRPV1, um canal iônico que atua como receptor do composto da pimenta. Além disso, essa proteína também atua como receptor de calor, porque é capaz de responder a temperaturas dolorosas aos humanos.
Ao lado de Arden Patapoutian, Julius usou a substância química mentol para identificar o TRPM8, um outro receptor que se mostrou ativado pelo frio. Além de explorarem os receptores para a sensação de temperatura, os vencedores do Nobel procuraram entender como estímulos mecânicos resultam em sensações de toque e pressão.
Para isso, Patapoutian analisou células emissoras de sinal elétrico, que foram cutucadas com um instrumento chamado micropipeta.
A equipe achou o canal iônico Piezo1, batizado em referência à palavra “píesi”, que significa “pressão” em grego. Mais tarde, foi identificado o canal iônico Piezo2, essencial ao tato e responsável pela capacidade de sentir a posição e o movimento de partes do nosso corpo.
O trabalho de Patapoutian revelou ainda que os dois receptores regulam processos fisiológicos importantes como pressão sanguínea, respiração e controle da bexiga urinária.
Por que essa descoberta é tão importante?
De acordo com comunicado da Academia, “o conhecimento está sendo usado para desenvolver tratamentos para uma ampla gama de doenças, incluindo dor crônica“.
Segundo uma reportagem do site The New York Times, a identificação dos receptores de dor despertou interesse das empresas farmacêuticas, especialmente pensando no tratamento da dor crônica.
No entanto, outros especialistas não consideram tão relevante para essa função. “É fascinante mecanicamente. Mas não acho que tenha muita relevância clínica para o tratamento da dor”, disse o professor John Wood, da University College London, que estuda dor e toque, ao The New York Times.