Os recentes casos de febre amarela criaram um grande alarde sobre a população. De acordo com os últimos dados divulgados pelo Ministério da Saúde, foram 353 casos confirmados e 98 óbitos no período de 1º julho de 2017 a 6 de fevereiro deste ano.
Neste cenário, é natural que haja grande preocupação por parte dos pacientes – e, aqui, cabe aos profissionais da saúde prestarem esclarecimentos e tranquilizarem a população.
“O médico é um profissional no qual o paciente confia, e é natural buscar com ele respostas para seus anseios e temores no que se refere a cuidados de saúde. Entendo que o médico deve ser fonte de informação atualizada e transmitir esse conhecimento com clareza, pois o acesso à informação evitará pânico”, diz a infectologista Glaucia Varkulja, do Hospital Santa Catarina.
Prestando esclarecimentos sobre a febre amarela
Neste sentido, cabe aos profissionais orientarem os pacientes acerca dos diversos aspectos da febre amarela, desde a doença em si até os riscos da vacina. “A primeira coisa é dizer que as autoridades de saúde, ao menos no estado de São Paulo, já estão tomando as medidas cabíveis há um tempo. Estamos vivendo este momento preparados”, afirma a infectologista Ingrid Cotta, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
É preciso deixar claro o que é a doença, como é transmitida – lembrando que apenas mosquitos infectados podem fazer isso, e não pessoas ou macacos –, que ela é potencialmente grave, mas que apenas uma minoria de pacientes terá uma evolução grave e, nesses casos, a mortalidade é alta.
Os pacientes precisam saber das formas de exposição ao vetor, que são os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes – na cidade, o Aedes aegypti tem potencial para transmitir mas, até o momento, não há casos de transmissão urbana –, e quais são as áreas de risco.
“Uma vez definido que há risco, seja por residir ou se deslocar para estas áreas, deve-se definir qual é a melhor estratégia preventiva. A principal forma de prevenção é a vacina, mas há outras formas de barreiras, como manter-se protegido de mosquitos”, aponta Varkulja.
Segundo a infectologista, os repelentes mais recomendados são à base de DEET, icaridina ou IR 3535 e as roupas mais adequadas são as longas. Se o tecido for fino, vale colocar repelente sobre as peças. Outra dica é estar atento ao hábito do mosquito, sobretudo ao amanhecer e anoitecer e, dependendo do caso, evitar viajar para as áreas onde a circulação do vírus é mais alta.
Vacinação
Essas dicas são especialmente preciosas para quem não pode se vacinar, afinal, existem alguns casos que requerem avaliação médica. “Precisamos avaliar se a imunização trará mais riscos ou benefícios para determinados pacientes, como idosos e grávidas”, diz Cotta. Também entram nesse grupo mulheres amamentando bebês abaixo de 6 meses.
É preciso ter atenção com crianças menores de nove meses, portadores da Doença de Addison e do timo, transplantados, com histórico de reação anafilática à proteína do ovo e derivados, pacientes com imunocomprometimento de qualquer natureza (pacientes com câncer, infectados pelo HIV, em tratamento com drogas imunossupressoras como corticosteroides em doses altas, quimioterapia, radioterapia, imunomoduladores).
Além das contraindicações, é comum que os pacientes tenham outras dúvidas e medo das reações adversas da vacina – sendo o maior deles a morte. Cabe ao médico contar que a vacina é segura, mesmo sendo de vírus vivo atenuado. No entanto, também é seu papel deixar claro quais são as cinco categorias de efeitos colaterais que podem ocorrer, de acordo com Cotta:
- Febre de até 10 dias;
- cansaço, dor no corpo, cabeça e muscular, diarreia e vômitos nas duas primeiras semanas;
- linfonodos perto da região onde recebeu a vacina;
- reação alérgica leve, moderada ou grave ao paciente com alergia à clara do ovo;
- mais rara (uma a cada 250 mil indivíduos vacinados) e grave, hepatite e neurite, podendo levar a sequelas neurológicas e, eventualmente, ao óbito.
“A vacina fracionada é uma estratégia que se mostrou eficaz em situações epidemiológicas críticas, como a que vivemos atualmente, em outros países e, por enquanto, os estudos demonstram que devem ser revacinados após 8 anos. Contudo, este intervalo pode ser maior, a depender do seguimento dos que receberam a vacina no passado”, completa Varkulja.
Cuidados no diagnóstico
É comum que os primeiros sintomas se confundam com os de uma virose. Isso porque, na verdade, febre amarela também é uma virose – uma arbovirose, mais precisamente –, fazendo com que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) a declare de difícil diagnóstico. São observados febre de início súbito de até 7 dias de duração, acompanhada de cefaleia, calafrios, mialgia, prostração, náuseas e vômitos.
“Para reduzir o risco de erro, o paciente deve informar o deslocamento para avaliar passagem por áreas de risco nos últimos 15 dias que antecedem a manifestação da doença, e se o paciente é susceptível, ou seja, não vacinado, vacinado há menos de 10 dias, ou de estado vacinal ignorado”, orienta Varkulja.
A principal característica da segunda fase da doença é o retorno da febre. “Nesses casos, precisamos orientar que o paciente volte imediatamente para hospital, de preferência uma unidade grande, que haja suporte adequado, pois pode ser grave e levar ao óbito”, finaliza Cotta.



















