O uso da tecnologia na saúde já é uma realidade sem volta. Seja por meio de novos aparelhos técnicos ou pela incorporação de novas ferramentas de comunicação, a rotina de atendimento e cuidado ao paciente é cada dia mais tecnológica. Discussões mais amplas e recentes nesse campo passam pela definição de critérios para a prática da telemedicina no Brasil, porém há outras faces dessa transformação na saúde que merecem atenção. O uso de aplicativos de mensagens como forma de diálogo entre médicos e pacientes é uma delas.
Uma pesquisa realizada pela Associação Paulista de Medicina (APM) e encomendada pela Global Summit Telemedicine & Digital Health, com 848 médicos de São Paulo, mostrou que 85% dos profissionais são favoráveis ao uso do WhatsApp para se comunicar com os pacientes. Cerca de 42% usa a ferramenta para tirar dúvidas entre as consultas, enquanto outros 34% recebem imagens e exames dos pacientes. Mesmo aqueles que não usam, isto é, 23,3% dos entrevistados, afirmaram ser favoráveis à utilização.
Para o professor associado da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e chefe da disciplina de telemedicina, Chao Lung Wen, aplicativos de mensagens podem ser úteis na interação e aproximação entre médico e paciente, mas é preciso acender vários alertas para esse uso. “Esse e outros aplicativos não podem ser chamados de telemedicina, pois eles não têm segurança digital. O WhatsApp, por exemplo, tem o recurso de encaminhar, que permite o vazamento de dados. Portanto, apesar de populares, eles não atendem critérios de padrão de qualidade”, explica.

Na visão de Chao Lung Wen, é preciso cuidado, por exemplo, ao responder mensagens de pacientes nos intervalos das consultas. “O serviço de orientação médica não pode ser feito na sobra de tempo. Por causa do sistema de correção automática, a mensagem enviada pode ser distinta da ideia e causar risco jurídico. É preciso ler e reler a mensagem a ser enviada. É preciso olhar para a ferramenta como um contato profissional de qualidade”, disse.
A prudência também deve existir no diálogo entre os profissionais. “O melhor é usar um ambiente de intranet do hospital para esse tipo interação. Não estamos falando de uma coisa ou uma doença, mas de pessoas, e elas precisam ser respeitadas”, disse. Segundo o professor, não dá para dizer, logo, que um telefone e esses aplicativos são instrumentos de telemedicina. “Ela é o provimento de serviços de saúde de qualidade usando os melhores recursos tecnológicos e eletrônicos disponíveis no momento ou na época”, esclareceu. Do ponto de vista de Chao, a telemedicina é o melhor recurso existente hoje para agilizar e otimizar os sistemas de saúde, mas ela precisa agregar. Isto é, ser aplicada para melhorar o que já é feito no atendimento presencial ou o que ele não pode ou consegue fazer.
Softwares de telemedicina precisam respeitar o Health Insurance Portability and Accontability (Hipaa), uma lei criada em 1996, nos Estados Unidos. Da mesma forma, precisam estar alinhados desde já à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrará em vigor no Brasil no próximo ano. “Como as nossas resoluções sobre telemedicina no País ainda estão vagas, todas as instituições que querem trabalhar com isso devem contratar alguém que entenda de normas e regras de segurança digital. Da mesma forma, é preciso formar os médicos em telemedicina, com no mínimo 80 horas de aulas. O médico precisa aprender antes de usar os softwares o que é ética e responsabilidade digital, como lidar com a câmera para gerar uma comunicação fluida, além de estratégias de avaliação e observação via câmera”, complementou Wen.
 
	    	 
		    

















