A atividade econômica brasileira permaneceu estagnada no primeiro semestre desse ano. Geralmente, os primeiros suspeitos são a taxa de juros e a dificuldade em obter novos empréstimos. Uma análise um pouco mais detalhada dos dados mostra que o mercado de crédito não deveria estar na lista de prováveis culpados.
O mercado de trabalho segue em expansão moderada. No segundo trimestre, foram geradas 793 mil vagas de emprego, com ajuste sazonal, o que aumentou modestamente a massa de salários nos últimos meses.
Enquanto isso, o mercado de crédito segue a todo vapor. Três fatores criaram as condições para a forte expansão dos empréstimos para pessoa física. Em primeiro lugar, o comprometimento de renda das famílias com pagamento de juros e amortização de dívida diminuiu nos últimos anos e voltou para um patamar saudável. Isso abre espaço no orçamento das pessoas para um novo ciclo de crédito.
Em segundo lugar, a taxa de inadimplência permanece em patamar historicamente baixa. O terceiro impulso vem da queda da taxa básica de juros. A conjunção desses elementos possibilitou crescimento da concessão de crédito para pessoa física de 3,9% no segundo trimestre em relação ao primeiro, com ajuste sazonal acima da média histórica de 1,8%.
Figura 1. Comprometimento de renda das famílias com serviço da dívida (exclui habitação).
Fonte: BCB
Figura 2. Concessão de crédito para pessoa física.
Fonte: BCB
Assim, o ritmo de crescimento do consumo das famílias deve ter acelerado moderadamente no trimestre passado.
Os segmentos mais dependentes de renda continuam com desempenho fraco, enquanto os setores mais sensíveis ao crédito apresentam desempenho mais vigoroso.
Esses dados ajudam a esclarecer que o nosso problema não é o mercado de crédito; pelo contrário. Se não fosse a forte expansão do crédito para as famílias, a nossa situação estaria pior.
A minha lista de culpados pelo fraco desempenho da economia começa pela incerteza sobre a aprovação das reformas estruturais, especialmente a previdenciária. O segundo culpado é a tragédia de Brumadinho, que prejudicou substancialmente o setor extrativo mineral. O terceiro é o desaquecimento mundial, que também prejudica nossas exportações.
Olhando para frente, a aprovação da reforma da Previdência com economia fiscal substancial para os próximos dez anos deverá ajudar na melhora da confiança e ajudar a impulsionar gradualmente o emprego e a renda nos próximos trimestres. Após vários meses de desapontamentos, os sinais de recuperação da atividade começam a aparecer.