Ter dinheiro em caixa para manter os custos operacionais da empresa é uma das principais lições para preservar a saúde financeira do negócio. Afinal, é comum que haja diferença entre as datas de recebimento das receitas e o pagamento das despesas. Portanto, nesse intervalo, é necessário ter capital de giro para evitar a cobrança de juros, multas, dívidas e manter a clínica ou consultório sempre no azul.
Para fazer uma gestão eficiente do capital de giro, os gestores precisam ter controle das contas a pagar e a receber, tanto em períodos de normalidade quanto na crise. Segundo Victor Corazza Modena, professor de pós-graduação em gestão financeira na IBE Conveniada FGV, a falta de gerência em momentos mais turbulentos pode significar até o encerramento das atividades de qualquer empresa.
“Via de regra, gerir o caixa é sempre ter em mente esses dois indicadores: prazo médio de pagamento aos fornecedores e prazo médio de recebimento dos clientes”, afirma.
A melhor forma de mensurar esses prazos é a partir do controle financeiro. Ariane Marta, contadora e diretora da Brascont Contabilidade, recomenda fazê-lo diariamente. “Dependendo do consultório pode ser feito semanalmente, o grande problema é que muita gente não faz”, pondera.
“O setor de contabilidade também é indispensável na gestão financeira do negócio. Mais do que o cumprimento de obrigações legais, como o pagamento de taxas e impostos, é a contabilidade que permitirá o conhecimento do capital de giro, custos gerais, estoque e outras informações essenciais para um planejamento financeiro efetivo”, destaca.
Dicas para controlar o capital de giro
Controle financeiro: a maneira mais adequada de fazê-lo é colocar todas as receitas e despesas do negócio no papel ou planilha. É primordial identificar os gastos fixos, como aluguel, contas de energia, água, internet, folha de pagamento, entre outros e também os valores a receber, detalhando se é um montante mensal, proveniente de convênio, consultas particulares, máquina de cartão, etc.
Vencimentos: é recomendado ter um prazo médio de recebimento menor, enquanto o de pagamento deve ser maior sem a incidência de juros para manter a boa saúde do caixa.
Taxas: conheça todos os valores pagos. Avalie os custos para saber quais são os encargos, se existe desconto com pagamento adiantado, possibilidade de conseguir melhores condições e preços.
Separar conta pessoal das finanças da empresa: esse é um erro comum entre empresários e que pode prejudicar a saúde financeira de qualquer negócio. Portanto, não misture as receitas e despesas da clínica e consultório com os seus ganhos e gastos pessoais.
Para quem possui sócios, fique atento as retiradas do caixa com a finalidade de distribuir os dividendos. É necessário fazer uma avaliação rigorosa e com argumentos sólidos, pois um erro de cálculo no valor pode impactar o desenvolvimento do negócio.
Linhas de crédito
Habitualmente, o mercado já oferece empréstimos para auxiliar o capital de giro das empresas. Com a crise desencadeada pela pandemia do novo coronavírus, surgiram diversas opções de crédito para ajudar a atravessar o período turbulento.
Antes de buscar o dinheiro emprestado, Modena alerta para a possibilidade do negócio entrar em uma situação complicada caso o pedido de empréstimo não seja submetido a avaliação minuciosa junto à instituição financeira.
“É fundamental, por exemplo, entender a necessidade de capital de giro antes de realizar o empréstimo. Entender que a origem da falta de caixa pode sinalizar muitos fatores, desde um mero descuido na gestão, até uma possível inviabilidade do negócio”, diz.
Caso o crédito seja realmente necessário, é essencial considerar a taxa de juros, carência, valor das parcelas, planejamento para pagamento do empréstimo, entre outros.
“Se esses pontos forem muito bem calculados e planejados, quitar o empréstimo não será um pesadelo na cabeça dos gestores do negócio. E mais do que isso, fará parte da gestão do fluxo de caixa da empresa, como mais uma conta a pagar”, conclui Modena.