Os emergentes estão sendo pesados e testados. O aumento da taxa de juros pelo banco central americano favorece a migração de recursos aos Estados Unidos, em detrimento dos países em desenvolvimento. Esse movimento de redução da liquidez mundial prejudica o financiamento dos países com maior fragilidade, ou seja, aqueles que não fizeram a lição de casa nos últimos anos.
A lista dos países frágeis está sendo liderada pela Turquia e Argentina. Nesses dois casos, os governos precisaram aumentar a taxa de juros para tentar interromper a fuga de capitais. Podemos ser o próximo da lista?
No Brasil, as contas externas são muito sólidas. A balança comercial deve encerrar esse ano com superávit superior a 50 bilhões de dólares e as reservas internacionais somam 18% do PIB. Somos destaque positivo nesse quesito.
Mas, a nossa situação fiscal é uma das mais frágeis entre os emergentes. O resultado fiscal primário deverá encerrar esse ano com déficit em torno de 2% do PIB (R$ 140 bilhões). Despesa acima da arrecadação implica aumento da dívida pública, que atingiu 77% do PIB no mês passado (Figura 1). Se respeitarmos a atual legislação, o resultado fiscal continuará negativo nos próximos anos e a dívida pública atingirá 90% do PIB em 2025, patamar desconfortável.
Fonte: Banco Central do Brasil.
Felizmente, o ajuste fiscal é viável e poderemos adotar algumas medidas difíceis no próximo ano, como a redução de subsídios e a aprovação da reforma previdenciária, a saber:
- O governo federal concede isenções e desonerações tributárias a diversos setores, que devem atingir R$ 306 bilhões em 2019. Precisamos analisar quais renúncias são realmente importantes;
- Os benefícios previdenciários representaram 8,4% do PIB no ano passado. Considerando a atual regra previdenciária e a demografia brasileira, essas despesas devem atingir 11% do PIB em 2025. Precisamos rediscutir qual a conta que queremos deixar para os nossos filhos.
Portanto, o ajuste das contas públicas não será tarefa fácil, mas é plenamente factível. O resultado dependerá do novo pacto social das urnas. Ser ou não ser o próximo da lista depende da nossa disposição a pensar mais no futuro. Enquanto isso, vamos manter o prudente gerenciamento de risco dos nossos investimentos.