Em março, o Ministério da Saúde anunciou a recomendação da 4ª dose da vacina contra a covid-19 para a população acima de 80 anos. O segundo reforço é uma maneira de aumentar os anticorpos e confere importante proteção, sobretudo no atual contexto de novo aumento nos casos da doença.
Segundo o médico sanitarista Gonzalo Vecina, a dose de reforço é uma medida protetiva, pois idosos apresentam o processo de imunossenescência – envelhecimento do sistema imune que prejudica a ação da vacina.
“Há queda na produção de anticorpos e sabemos que organismos mais frágeis são os que mais morrem, então a decisão da quarta dose é mais no sentido de que temos que fazer algo pelos idosos e portadores de comorbidades”, diz Vecina, fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Desde dezembro do ano passado, pessoas imunocomprometidas (com problemas no sistema imune e, por consequência, na produção de anticorpos) já podem se vacinar com o reforço. A estratégia é padrão para este público e, inclusive, a cidade de São Paulo já anunciou a aplicação de quinta dose para idosos acima de 60 anos com deficiências imunes.
Prevenir desfechos graves
Desde o início da campanha de vacinação contra a covid-19, especialistas explicam que a vacina não mina todo o risco de contrair a doença, mas diminui a perspectiva de desfechos graves – como internações e até mesmo mortes.
Isso é essencial, ainda mais em um momento de nova alta, com diferentes formas da ômicron em circulação. “Essa cepa tem cinco subvariantes importantes até agora, e uma não confere proteção contra a outra. Ou seja, uma pessoa pode ter cinco vezes a doença”, alerta Vecina.
De forma prática, a quarta dose incentiva a produção de neutralizantes frente à queda natural, meses após a última imunização. “Sabemos que, mais ou menos quatro ou cinco meses após uma vacina utilizada, há uma queda na produção de anticorpos”, destaca o médico sanitarista.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou que a pasta deve expandir a recomendação de aplicar o segundo reforço em pessoas a partir de 50 anos. Ainda não há previsão de calendário completo da campanha para as demais faixas etárias.
Mortalidade entre não vacinados
Estudos apontam que a mortalidade em pessoas não vacinadas é maior comparada àquelas que receberam a aplicação, principalmente com esquema vacinal completo. A secretaria estadual da Saúde de São Paulo divulgou em março deste ano um balanço que apontou que o risco de uma pessoa não imunizada morrer por covid-19 é 26 vezes maior do que em uma protegida.
Foram compilados dados de 7.942 vítimas, entre 5 de dezembro de 2021 e 26 de fevereiro de 2022. Durante a análise, o país vivia intensa circulação da variante ômicron, identificada em novembro passado na África do Sul e que rapidamente se alastrou pelo Brasil.
O estudo indicou 13 mortes de vacinados por 100 mil habitantes, em comparação com 332 por 100 mil habitantes entre não imunizados – também foram registradas 22 mortes em pessoas com apenas uma dose.
Em Londrina (PR), uma pesquisa indicou que 75% dos óbitos nos primeiros dez meses do ano passado foram registrados em quem não recebeu as doses. Os pesquisadores se basearam em 59.853 testes positivos da doença. Desses, a maioria ocorreu em pessoas sem vacina (48.217), seguido por quem recebeu apenas a primeira dose (7.207).
De 1.687 óbitos, 1.269 pessoas não foram imunizadas, segundo os dados publicados no periódico científico Jornal Americano de Controle de Infecção.
Qual dose tomar e recomendações extras
A indicação de especialistas é priorizar a vacinação com o imunizante da Pfizer, de RNA mensageiro. Ele tem maior caráter imunogênico, com melhor capacidade de estimular o sistema imune.
No entanto, em casos de falta da vacina e sem previsão de abastecimento, é importante receber as demais opções (Janssen ou AstraZeneca, seguidas por CoronaVac na ordem de prioridade de aplicação).
Para Vecina, também é necessário a população estar atenta sobre o uso de máscara neste momento, relaxado há alguns meses em todo o país. O acessório, explica, é uma das principais ferramentas para diminuir a circulação da doença, intensificada quando aplicada a outros protocolos sanitários – como distanciamento social e correta higienização das mãos.