A correria do dia a dia, as longas horas de trabalho e, muitas vezes, a falta de conhecimento impedem muitos médicos de organizar as finanças e fazer um planejamento financeiro pessoal. No entanto, saber lidar com o dinheiro é uma etapa essencial para uma vida financeira equilibrada.
Camila Carvalho, instrutora da Udemy especializada em finanças pessoais, diz que o primeiro passo para organizar as finanças é listar todas as receitas e despesas. “Você precisa saber quanto ganha e quanto gasta mensalmente, não tem como fugir disso. Como isso requer disciplina, é normal encontrar resistência na hora de sentar e analisar suas contas. Não precisa ser nada muito rebuscado, um simples registro em um caderno já é um bom começo”, recomenda.
O modelo de orçamento 50/30/20 é uma forma simples e fácil de elencar as suas receitas e despesas, porque divide a sua renda líquida em três categorias: essenciais, supérfluos e investimentos. Assim, é possível visualizar para onde o seu dinheiro está indo. Veja como fica:
- 50% para despesas essenciais: aluguel, alimentação condomínio, TV por assinatura, telefone, internet, combustível do carro, entre outros;
- 30% para os gastos supérfluos: compras, comida por aplicativo, jantar ou almoço no seu restaurante favorito, presentes, entre outros;
- 20% para poupar: este é o percentual recomendado para guardar dinheiro todos os meses para a sua reserva de emergência, aposentadoria ou a realização de outro objetivo.
Os percentuais dessa fórmula são ajustáveis de acordo com a realidade financeira de cada pessoa. Portanto, é possível fazer um 70/20/10, 80/10/10 ou 85/10/5. O importante mesmo é ter disciplina e anotar tudo para ter controle do seu dinheiro.
Vale salientar que as contas pessoais e da clínica devem ser separadas. Por isso, tenha uma conta bancária de pessoa física e outra jurídica para o seu negócio, assim como orçamentos distintos. “Caso você precise pagar algum gasto da clínica com seu dinheiro, anote para fazer o reembolso e vice-versa. Faça de conta que a clínica não é sua e que você precisa prestar contas com outra pessoa”, diz Carvalho. Esta postura é fundamental para garantir o equilíbrio financeiro tanto da sua clínica, quanto da sua vida pessoal.
O que é e por que fazer um planejamento financeiro pessoal?
Agora que todas as receitas e despesas foram colocadas na ponta do lápis, é o momento de elaborar o planejamento financeiro que vai prever os ganhos e gastos futuros.
“O planejamento financeiro é forma mais correta e assertiva para organizar suas finanças de acordo com seus objetivos para o futuro. É importante porque pode ser utilizado como balizador para tomada de decisões”, Márcia Silva, gerente de investimentos da Sicredi Vale do Piquiri Abcd PR/SP.
De acordo com Carvalho, o planejamento viabiliza ações que podem anteceder possíveis problemas financeiros. Por exemplo, se o médico estima que os gastos mensais com a clínica são de R$ 5 mil e a receita tem sido de, no mínimo, R$ 7 mil por mês, então o lucro mensal será de pelo menos R$ 2 mil.
“No entanto, se algum gasto aumentar subitamente, como o aluguel ou se você começar a perder clientes, ele pode decidir como agir e avaliar se vale a pena investir em marketing para atrair novos clientes ou se é melhor procurar outro lugar com aluguel mais barato”, afirma.
Como fazer o planejamento financeiro?
É primordial ter todos os ganhos e gastos registrados, e a melhor forma de fazê-lo é utilizando um caderno, planilha de excel ou aplicativos. Para os gastos pessoais, as dicas são o Guiabolso, Mobills ou Minhas Economias. Para a clínica, Conta Azul e QuickBooks.
“Depois disso, você escolhe um período do ano e registra todas as contas que foram pagas e todas as receitas que foram obtidas naquele momento. A partir daí, você começa a criar um cenário”, diz Ariane Marta, diretora da Brascont Contabilidade.
Com esse panorama, o médico consegue projetar as despesas para o futuro incluindo os objetivos a serem realizados no curto, médio e longo prazo, por exemplo uma viagem para o exterior com toda a família e aposentadoria.
Como guardar dinheiro todos os meses?
O ato de poupar dinheiro é um hábito que deve ser incorporado à rotina, assim como escovar os dentes. O valor guardado por mês depende da situação financeira de cada médico, por isso o orçamento é tão importante. Com ele, é possível verificar se está gastando demais, quais despesas podem ser cortadas ou negociadas e quanto é possível guardar mensalmente.
Para quem tem dívidas, é fundamental quitá-las antes de pensar em investir, afinal os juros de uma fatura de cartão atrasada, por exemplo, são infinitamente maiores que a rentabilidade de qualquer investimento. Portanto, faça uma lista com todos os débitos, parcelas pagas e negocie com o credor.
“O principal para quem nunca guardou dinheiro é formar uma reserva de emergência. Na pandemia, por exemplo, existem médicos que trabalharam muito, mas determinadas áreas ficaram sem atender. Então, é importante saber a soma de todas as suas despesas e definir um valor para obter como reserva de emergência. O mais indicado é se organizar para que essa reserva tenha dinheiro suficiente para uns seis meses”, aponta Marta.
Todavia, antes de investir é necessário descobrir o seu perfil de investidor por meio do teste de perfil do investidor que considera seu nível de disposição para tomar risco, objetivos, capital disponível, o período do investimentos, entre outros.
Depois de construir a reserva de emergência, o médico pode se concentrar nos investimentos para aposentadoria e outros objetivos.
Silva acredita que nunca é tarde para começar a investir e que todo profissional liberal deve se preocupar em planejar o seu futuro. “Para um médico de 50 anos ainda conseguimos planejar uma aposentadoria para 65 anos, pois ele se beneficia de um IR menor e nesta linha do tempo é possível diversificar de acordo com as movimentações do mercado”, finaliza.