Lideranças cooperativas de todo o mundo se reuniram neste mês, em São Paulo, para discutir como o setor pode contribuir com a consolidação dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) das Nações Unidas. O evento “Cooperativismo e os objetivos do desenvolvimento sustentável: combinando impacto econômico e social por um mundo melhor” foi promovido pelo Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) e Unimed do Brasil, com participação da Aliança Cooperativa Internacional (ACI). Na ocasião, conversamos com Márcio Lopes de Freitas, presidente da OCB, que acredita que o desenvolvimento sustentável esteja “no DNA” das cooperativas.
O resultado dessa conversa você confere na entrevista abaixo, na qual falamos sobre a importância de instituições socialmente responsáveis, o papel do cooperativismo na formação de um mundo mais igualitário e sobre o que as cooperativas podem fazer para se adequar aos objetivos propostos pela ONU.
1) Para o senhor, como o cooperativismo se relaciona com os objetivos de sustentabilidade da ONU?
O cooperativismo é uma sociedade de pessoas. E essa é a grande diferença da cooperativa para qualquer outra instituição de foco comercial. O grande capital das cooperativas é a sua gente e ela desenvolve todos os seus trabalhos pensando nessas pessoas. Isso faz com que ela tenha uma performance muito mais alinhada com o princípio da sustentabilidade no sentido amplo da palavra, que envolve sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas estão em nosso DNA. As cooperativas já têm atitudes relacionadas aos 17 objetivos. A questão agora é alinhar esses objetivos e traduzir isso em uma linguagem única entre Nações Unidas e o movimento cooperativista.
2) E como as cooperativas podem se preparar para aumentar seu engajamento nesse movimento de desenvolvimento sustentável, de forma ativa e perene?
A forma que já vejo de maior encaixe rápido e objetivo é o que chamamos de Dia C. O Dia de Cooperar já está se tornando uma cultura, ele acontece no primeiro sábado de julho, no Dia Internacional do Cooperativismo, e é um grande dia de cidadania cooperativista. Nossa ideia é usar o Dia C para fazer um grande dia de promoção dos objetivos das Nações Unidas para a sustentabilidade e, com isso, despertar esse tema dentro do movimento.
Além disso, vou começar a incentivar em todas as nossas linhas editoriais que cada cooperativa procure seguir pelo menos cinco objetivos de desenvolvimento sustentável. Elas podem alinhar os seus projetos para que cumpram metas de pelo menos 5 objetivos, respeitando as particularidades de cada uma. Já pensou se cada cooperativa fizer apenas 1 projeto, que diferença faria? Dá para impactar o Brasil todo.
3) O 10º objetivo da ONU fala da redução das desigualdades. Como o modelo econômico do cooperativismo pode colaborar com um mundo mais igualitário socialmente?
Isso acontece pela própria natureza das cooperativas. Elas geram resultados não para o presidente da cooperativa, mas para a base, para o próprio cooperado: que é usuário, dono e gestor. Então, ela cria um projeto de geração e distribuição de recursos muito mais equilibrado, mais equitativo. Eu acho que essa é a grande contribuição para o reequilíbrio da nossa sociedade concentradora de recursos. O cooperativismo vem contrapor isso, mitigando o efeito dessa aglutinação muito intensa.
4) Outro objetivo fala da promoção de saúde de qualidade. Como o cooperativismo pode agir também nessa questão?
O cooperativismo de saúde é referência no País e tem tudo a ver com os objetivos de sustentabilidade, pois faz parte desses objetivos as pessoas terem acesso a uma rede de saúde equilibrada. Vemos, hoje, praticamente uma falência da saúde pública e um custo muito alto na saúde totalmente privada. A saúde cooperativada nos dá uma condição de equilíbrio e a chance de as pessoas poderem participar desse sistema.
5) Foi discutido no evento que as cooperativas promovem muitas ações ligadas aos objetivos da ONU, mas que falta comunicação dessas iniciativas para a sociedade. Como essa comunicação pode ser melhorada?
É preciso bater o bumbo, tocar o tambor para mostrar o que fazemos. Estamos estudando como falar melhor com as pessoas. Nós somos craques no “nós com nós” – a gente se reúne em um evento, fala, se comunica, faz cobertura e na hora que vamos para a sociedade acabamos nos aquietando. Precisamos mostrar a cara, esse é um trabalho de quebrar paradigmas. Ainda temos uma barreira a ultrapassar e temos um grande plano de comunicação no sistema.
6) O objetivo 17 fala sobre a realização de parcerias para implementação desses objetivos. Como os princípios do cooperativismo podem ir ao encontro desse objetivo?
É o mesmo princípio da intercooperação: fazer uma rede de negócios de interesses entre cooperativas. Por que não fazer o mesmo entre cooperativas e empresas que tenham interesses relacionados? Precisamos quebrar esse paradigma de que se anda sozinho, ninguém mais anda sozinho. Acho que é preciso formar grandes redes de desenvolvimento de negócios, capitaneadas pelo cooperativismo.
7) E que benefícios isso traria para o crescimento econômico sustentável e também para inovação das atividades?
Os benefícios são de inovação, geração de oportunidade de negócios, acesso ao mercado e disponibilização de mais produtos aos cooperados. Tem muita coisa que pode ser feita nesse sentido e acho que tudo isso vai contribuir com o cumprimento dos objetivos das Nações Unidas.
8) Como eventos como esse colaboram com a realização desse plano?
Os eventos são oportunidades ímpares para a gente explorar esse assunto e trazê-lo para a pauta do cooperativismo brasileiro. A partir de agora, cabe a nós desenvolvermos um sistema e nos aprofundarmos nele, aproveitando esse motor de arranque, esse start proporcionado pela reunião da ACI (Aliança Cooperativa Internacional).