Sob qualquer aspecto não há como comparar as consequências da epidemia da Gripe Espanhola de 1918 com as decorrências que advirão desta pandemia da Covid-19 (só como ilustração: ambas podem ser nominadas pelo título que se queira dar: pandemia ou epidemia global).
Nos primórdios do Século XX, em tempos finais da Primeira Guerra Mundial, o planeta ainda engatinhava sob o ponto de vista das comunicações, das relações continentais, do conhecimento científico, das noções de infectologia, da ínfima disponibilidade de medicamentos. Nem sequer a penicilina, como primeiro antibiótico eficaz, havia sido descoberta (isso só ocorreu ao final da Segunda Grande Guerra). Portanto, quando o vírus chegou e progressivamente atingiu o território planetário, boa parte da população interpretou aquilo como uma praga de origem divina, sem entender a disseminação explicada em bases científicas. Tampouco sabiam, pelas dificuldades de comunicação, o que estava acontecendo no outro continente. O ritmo era o imprimido pelos navios, em seus ancoradouros portuários.
Hoje, no patamar do Século XXI, a evolução dos tempos chegou-nos tão rápida e tão plena de inovações, que parece ter transcorrido mil anos desde lá até aqui. E foram apenas cem. Sabemos diariamente o número de vítimas da Covid-19 nos países europeus ou asiáticos; se a morte for de alguém de representatividade política, científica ou cultural, apenas alguns minutos após o ocorrido. A economia nos tempos da Gripe Espanhola tinha feição grandemente diversa da modernidade. Na era atual, uma palavra do presidente norte-americano no sentido de barrar o ingresso de estrangeiros nos aeroportos, ou de acusar o laboratório de pesquisa chinês – por exemplo – será o suficiente para provocar outra pandemia na área da economia global: as Bolsas de Valores despencam, e a paridade com o dólar desvaloriza as moedas locais. Essa é a pós-modernidade, onde tudo se modifica rápido, em sua terrível e progressiva volatilidade nos contextos da normalidade dos países, e por consequência, na vida diária das pessoas.
Portanto, diante das catastróficas decorrências sanitária e econômica dos países atingidos, mais do que nunca, precisamos de uma liderança firme e sólida, para assumir o controle da crise e de suas consequências. Fred Greenstein, cientista político norte-americano, em publicações da década passada, tratando de pesquisas sobre o “dom da liderança”, já afirmava que esta é uma característica que alguns têm, e outros não têm. “A liderança é uma qualidade de nascença” – dizia ele – “e que alguns líderes só apresentam esta vocação em situação-limite”.
Cada família, cada distrito, cada empresa, estado ou país precisará, neste momento de crise, de um líder que assuma o controle dessa situação emergencial, tal qual falava Greenstein, para ser o condutor na construção de novos rumos, alicerçados em outras bases, quiçá totalmente diversas daquelas que já pertencem ao passado.