O desempenho da economia brasileira permanecerá fraco ao longo deste ano. As incertezas no ambiente internacional, os desafios fiscais que o próximo governo precisará enfrentar e o aumento da taxa de juros prejudicam as expectativas dos empresários e, consequentemente, as decisões de investimentos e contratação de novos trabalhadores serão postergadas. A taxa de desemprego poderá subir modestamente ao longo do ano, reforçando a ligação entre o ambiente econômico e as discussões políticas.
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O cenário internacional não deve ajudar significativamente nossas exportações e nem gerar um grande influxo de capitais internacionais. A inflação ao redor do mundo está levando diversos bancos centrais a retirar seus estímulos monetários implementados no auge da pandemia, que somada à reversão dos impulsos fiscais, desacelerará o ritmo de crescimento mundial. A China, nosso principal parceiro comercial, precisa contornar os seus problemas no setor imobiliário, que tem prejudicado a demanda por aço e minério de ferro. Enfim, não podemos contar com o mundo para impulsionar nossa economia neste ano.
Após um ano de forte arrecadação fiscal do governo brasileiro, em grande parte pelo surto inflacionário e pela retomada da atividade no segundo semestre de 2020, as contas públicas devem voltar a se deteriorar em 2022. O resultado primário do governo federal deverá voltar para o território negativo, com aumento das despesas (permitidas com a aprovação da PEC dos Precatórios) e a reversão de parte das surpresas arrecadatórias (com a estagnação econômica e a redução gradual da inflação). Assim, a dívida pública voltará para trajetória ascendente, o que suporta a visão de que novas reformas serão necessárias para manter nossa solvência fiscal em médio e longo prazo. O próximo governo terá muito trabalho pela frente.
O banco central continua firme no ciclo de aumento da taxa de juros para patamar significativamente contracionista. O consenso dos economistas espera que a taxa Selic atinja 11,75% em março e permaneça nesse patamar ao longo do resto do ano. Importante salientar que a política monetária opera com longa defasagem temporal, ou seja, a maior parte da alta de juros impactará a atividade econômica somente em meados deste ano, e a demanda doméstica já estava fraca no ano passado.
Figura 1: A defasagem natural entre a taxa Selic e a taxa de juros da concessão de crédito para pessoa física.
Fonte: BCB
Enfim, não há impulso externo ou interno para sustentar o tradicional otimismo de início de ano. O único fator positivo será a necessidade de recomposição temporária de estoques por alguns setores durante alguns trimestres.
Sem perspectiva de crescimento da produção nacional, as empresas não devem aumentar significativamente o número de postos de trabalho ao longo do ano. A taxa de desemprego subirá moderadamente nos próximos meses, infelizmente. Importante destacar que, mesmo antes do aumento esperado para a taxa de desemprego, a massa salarial real já está em retração. Para não dizerem que a culpa é somente da inflação, a massa salarial nominal também não apresentou expansão no segundo semestre do ano passado.
Portanto, o ambiente desafiador aumenta a relevância do debate em torno das propostas para os rumos da economia brasileira. A sociedade precisa de uma estratégia crível de esforço fiscal, capaz de reduzir a incerteza sobre a dinâmica da dívida pública e impulsionar os investimentos e os empregos. A discussão está apenas começando.