As infecções são uma importante causa de mortalidade e morbidade por lesões de queimaduras. Esta condição impõe ao paciente complicações como falência dos órgãos, prolongamento da internação e aumento dos custos. Por isso, o diagnóstico preciso e o tratamento precoce são determinantes no resultado clínico da pessoa queimada. Diante desta realidade, um grupo de pesquisadores mexicanos fez uma ampla revisão de evidências sobre marcadores utilizados para identificar sepse em pacientes com queimaduras. O trabalho foi publicado no periódico Burns.
De acordo com o estudo, a mortalidade em pacientes com sepse após queimaduras chega a ser de 34,4%, como observado em outras pesquisas recentes. O que pode ser aumentado devido à falta de unidades e serviços médicos adequados para o tratamento. O risco de mortalidade aumenta em mais ou menos 8% a cada hora em que a terapia farmacológica adequada é atrasada. Atualmente, o padrão-ouro para a identificação de sepse é a detecção de um grande painel de agentes etiológicos. No entanto, a análise de culturas bioquímicas e microbiológicas é inviável. Assim, é necessário identificar novos biomarcadores não tradicionais para o diagnóstico e tratamento precoces da sepse.
A ideia de prever complicações de infecções relacionadas a queimaduras está em discussão há 30 anos. O estudo publicado no Burns apresenta novos biomarcadores, como alterações do perfil transcriptoma, marcadores epigenéticos, avanços em proteômica e metabolômica e variações do DNA genômico, que podem fornecer novas ideias sobre os possíveis indicadores iniciais de sepse após lesão por queimadura.
O estudo descreveu possíveis marcadores que demonstraram diferenças estatisticamente significantes em um processo de sepse em modelos de estudo para queimaduras e que poderiam constituir um complemento adequado aos marcadores atualmente utilizados. O CD14, receptor do complexo Lipopolissaccharide (LPS)- Lipopolysaccharide Binding Protein (LBP), é um deles. Foi demonstrado que o CD14 pode ativar cascatas inflamatórias e vias de transdução de sinal que levam a uma resposta inflamatória sistêmica.
Foi demonstrado também que, nas fases iniciais do choque séptico, os níveis plasmáticos de vasopressina aumentam, mas diminuem posteriormente nos pacientes sépticos tardios. Portanto, os níveis de vasopressina podem ser bons candidatos para avaliar o risco e o prognóstico do choque séptico.
Outro possível marcador é a trombomodulina (TM), uma proteína de 557 aminoácidos com vários papéis fisiológicos. Níveis séricos aumentados de TM foram documentados em pacientes com choque séptico em comparação a controles saudáveis. O nível mais alto de TM foi observado em pacientes com sepse grave, em comparação a pacientes com sepse leve, bem como em pacientes que morreram em contraste com aqueles que sobreviveram. Portanto, a TM pode ser útil para prever o curso e a gravidade da sepse. No entanto mais estudos longitudinais são necessários para confirmar sua utilidade clínica.
Entre os novos marcadores identificados e documentados pela pesquisa, também, estão a molécula de adesão intercelular 1 (ICAM-1), a molécula-1 de adesão celular vascular, P-selectina, L-selectina e E-selectina, assim como as proteínas de choque térmico (HSP), a Granzyme A (GZMA), a granzima B (GZMB), a proteína quimioatrativa de monócitos1 (MCP-1/CCL2) e as metaloproteinases de matriz (MMP). A lista também inclui a adrenomedulina (ADM), marcadores moleculares, variações genômicas do DNA e outros.
De acordo com os pesquisadores, a busca por novos biomarcadores moleculares em combinação com alguns marcadores tradicionais será essencial para a detecção precoce de sepse em pacientes com queimaduras, além disso, os novos achados devem ser validados nesse tipo de paciente a fim de criar uma sensibilidade, baixar os custos do tratamento e, ao mesmo tempo, encontrar um diagnóstico precoce mais efetivo.