Após a surpreendente recuperação da atividade mundial no segundo semestre do ano passado, o ritmo de expansão econômica deverá desacelerar nos próximos trimestres. Por aqui, o consumo das famílias apresentará desempenho apenas modesto ao longo do próximo ano. O tradicional efeito ressaca está começando.
A atividade mundial deverá desacelerar nos próximos trimestres. Nos EUA, a redução dos estímulos fiscais e monetários deverão diminuir o ritmo de expansão do consumo das famílias e dos investimentos das empresas. A economia chinesa também sofrerá com o aperto nas condições de crédito e as intervenções setoriais realizadas pelo governo nos últimos meses. A retirada das medidas emergenciais adotadas durante a pandemia deverá desaquecer o ritmo de expansão ao redor do planeta em 2022.
Por aqui, a complexidade do ambiente econômico também está aumentando. O IPCA deve atingir mais de 10% acumulado nos últimos doze meses e já começou a contaminar as expectativas de inflação para o próximo ano. Essa pressão de preços mais persistente do que esperada está levando o Banco Central do Brasil a aumentar a taxa básica de juros para patamar restritivo.
Tradicionalmente, o aumento da taxa Selic prejudica o desempenho da demanda doméstica com defasagem em torno de seis meses. Isso significa que a maior parte do aumento da taxa de juros desde o início do ano impactará a atividade nos próximos meses.
Outro ponto de atenção é a incerteza sobre as contas públicas do próximo ano. A busca por espaço no orçamento federal para acomodar a prometida expansão do programa de transferência de renda, que será rebatizado de Auxílio Brasil, entre outras despesas primárias, está levando o governo e o Congresso a debater medidas que contornam o teto de gastos.
Importante lembrar que o teto de gastos é uma ferramenta importante para evitar uma escalada no uso do dinheiro público. Eventuais subterfúgios à Constituição geram incertezas sobre a trajetória da dívida pública e, consequentemente, aumentam o prêmio de risco-país e podem elevar a taxa de juros efetivamente praticada na economia. Enfim, processos de deterioração fiscal prejudicam o setor privado.
O ambiente mais desafiador já começou a afetar as expectativas dos consumidores e empresários, emitindo sinais do arrefecimento da atividade à frente.
Figura 1. Confiança do consumidor recuou em setembro e permanece em patamar baixo.
Fonte: FGV.
Portanto, a atividade deverá desacelerar ao redor do mundo. A necessária reversão dos estímulos implementados durante o auge da pandemia também deverá pesar sobre o consumo e o investimento brasileiro, gerando um efeito ressaca sobre o desempenho da nossa economia em 2022.