Colaborar com a inclusão financeira, com a igualdade salarial, com a capacitação profissional e educação formal dos menos favorecidos por nosso sistema econômico. Essas são apenas algumas das possíveis frentes pelas quais o cooperativismo pode colaborar com o 8º objetivo de desenvolvimento sustentável da ONU: emprego digno e crescimento econômico sustentável.
Esse foi o tema de discussão do painel “Cooperativismo: um modelo econômico voltado para o crescimento econômico”, que reuniu líderes cooperativistas mundiais para discutir o papel do setor no cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. A mesa fez parte do evento “Cooperativismo e os objetivos do desenvolvimento sustentável: combinando impacto econômico e social por um mundo melhor”, realizado, no início de março, pelo Sistema OCB e Unimed Brasil, com participação da Aliança Cooperativa Internacional (ACI).
“Precisamos discutir o que esse objetivo significa para o Brasil. Estamos na fase final da maior crise econômica da história do País. Com isso, vivemos a maior tragédia que uma sociedade pode viver: o desemprego. E o cooperativismo pode apresentar uma solução para esse problema”, salientou Roberto Rodrigues, ex-presidente da ACI e mediador do painel.
A mesa trouxe iniciativas de sucesso de diversas partes do mundo, com troca de experiências sobre o sucesso e dificuldades enfrentadas por cada projeto, em diferentes parte do mundo. As discussões apresentaram, ao mesmo tempo, exemplos a serem seguidos e despertaram reflexões sobre transformações e novas possibilidades de ação.
Projetos de educação e capacitação profissional foram apresentados por Dulce Braga, presidente da Cooperativa Cootama, do Brasil, e Raul Colombetti, presidente da Casa Cooperativa, da Argentina. A presidente da Cootama deu início às discussões falando sobre a iniciativa de ressocialização e capacitação profissional de presidiários, o 3R, desenvolvido em Rondônia. “As pessoas não tinham nada para fazer no presídio, era triste ver a depressão. Voltar a trabalhar, a produzir colabora com a higiene mental dessas pessoas”, explicou Dulce. Além da ação interna, a cooperativa desenvolve também um trabalho junto às famílias dos presidiários, para tentar minimizar os impactos do encarceramento sobre essa população.
Colombetti apresentou o trabalho da Casa Cooperativa de Sunchales, que trabalha pela inclusão de jovens no mercado de trabalho e executa programas de sensibilização e educação corporativa. A cooperativa desenvolve projetos a partir de frentes de inclusão social, trabalho e educação. Em 2016, contava com mais de 50 mil associados.
Outro eixo de discussão no painel foi o do papel das cooperativas na inclusão financeira dos que ficam à margem desse sistema, que foi trazido à tona por Stanley Muchiri, presidente da Aliança Cooperativa Internacional para a África, e Jean-Louis Bancel, presidente do Grupo Crédit Coopératif, da França. “Tentamos ser diferentes dos banqueiros tradicionais, aqueles que todos têm em mente. Não trabalhamos apenas pelo dinheiro, é importante que o dinheiro se transforme em ações”, explicou Bancel.
Muchiri apresentou as iniciativas dos bancos cooperados do Quênia e sua influência sobre a entrada de uma população desbancarizada a esse sistema. A oferta de crédito facilitado por essas instituições também foi abordada pelos dois oradores e apresentada como uma forma de estimular o desenvolvimento econômico sustentável de um país.
O chamado para que todas as cooperativas participem do projeto de sustentabilidade e tentem alinhar os seus projetos aos objetivos propostos pela ONU foi consolidado na fala de Bancel. “Cada um de nós é ator em nosso território e temos o papel de agir em nosso setor e região. Além disso, somos cidadãos de um único mundo, não podemos aceitar nenhum tipo de exclusão, precisamos ajudar uns aos outros”, defendeu o francês.
Mais informações sobre as propostas cooperativas para a consolidação dos objetivos de sustentabilidade das Nações Unidas podem ser conferidas no site Co-ops for 2030 (http://www.coopsfor2030.coop/en).