Com alta volatilidade e mais riscos, a Bolsa oferece retornos mais vantajosos no longo prazo. Entenda como funciona.
Mais de 400 mil pessoas se tornaram investidoras nos três primeiros meses de 2020, segundo levantamento da B3, Bolsa de Valores de São Paulo. Entre as 223 mil pessoas físicas que começaram a investir em março, 30% fizeram o primeiro investimento com menos de R$500, apesar do tombo que o Ibovespa levou no período por conta da pandemia do novo coronavírus – no mês, a queda foi de 29,90%.
Especialistas acreditam que um dos fatores que atraíram os novos investidores é a disseminação de informações sobre a bolsa brasileira por meio das corretoras, educadores financeiros e especialistas em investimentos que apresentam outras opções além da renda fixa e mostram que o mercado de ações não é um bicho de sete cabeças.
Outro aspecto que pode ter influenciado a entrada de novos investidores na Bolsa é a taxa Selic que, atualmente, está em 3% ao ano. Esta é a taxa básica de juros da economia e serve de parâmetro para a rentabilidade dos investimentos em renda fixa. A perspectiva é que ela caia a 2,25% até o final de 2020, segundo o relatório Focus do Banco Central.
“É uma taxa muito baixa se a gente lembrar do histórico brasileiro que já teve a Selic em 16% ao ano. Como a taxa de juros está muito baixa, o investidor é obrigado, caso queira mais retorno, a buscar investimentos com maior rentabilidade, como os fundos de investimento ou Bolsa de Valores”, diz Gustavo Vaz, operador de renda variável na Atrio Investimentos.
Como funciona o Bolsa de Valores?
É a instituição onde são negociadas as ações das empresas de capital aberto, moedas (câmbio), contratos de juros e mercadorias, como petróleo e café. No Brasil, temos a B3. Nos Estados Unidos, as principais são a New York Stock Exchange (NYSE), a Nasdaq e a Chicago Mercantile Exchange (CME).
O índice Ibovespa é o principal indicador da B3 para classificar o desempenho médio de uma carteira de ações. Com ele, é possível saber se os papéis negociados no dia tiveram alta ou queda.
Na prática, investir na Bolsa significa comprar ações de uma empresa e se tornar sócio da companhia, mesmo com um pequeno percentual de participação.
Por que o mercado de ações é tão volátil?
A alta volatilidade da Bolsa acontece porque os preços das ações valorizam e desvalorizam de acordo com a percepção do mercado sobre aquela empresa. Portanto, quando a companhia lucra, o investidor lucra também.
Vale salientar que outros fatores podem fazer a Bolsa de Valores despencar, como a crise econômica decorrente da pandemia da COVID-19 e o cenário político brasileiro. A demissão do ex-juiz federal Sérgio Moro do cargo de ministro da Justiça no dia 24 de abril, desestabilizou o mercado financeiro e o Ibovespa chegou a cair 9,5%.
Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos, explica que o mercado financeiro se baseia nas expectativas. “A partir do momento que não conseguimos projetar as perspectivas para o fim do ano ou para o crescimento econômico dos países, o cenário fica muito nebuloso e o investidor prefere não deixar o seu dinheiro investido na Bolsa. Ele opta por colocar o valor em uma conta para esperar todo esse caos passar e então voltar a Bolsa em um momento de maior clareza”, justifica.
Em razão desse sobe e desce, as ações são investimentos de longo prazo. No curto prazo, como demonstra o gráfico abaixo , a Bolsa é uma verdadeira montanha russa. Contudo, os retornos são mais vantajosos em um período maior.
Segundo Vaz, é comum ver investidores entrando no mercado de ações pela especulação e não pensando no valor real da empresa. “Algumas pessoas físicas tratam a Bolsa mais como um jogo de apostas do que um espaço onde você pode fazer seus investimentos e construir patrimônio. Isso é uma das grandes razões pelas quais as pessoas perdem dinheiro”, avalia.
A especulação é uma prática do day trade, que são as operações de compra e venda de ações realizadas no mesmo dia – geralmente impulsionadas por uma notícia relevante ou IPO (initial public offering) ou oferta pública inicial –, mas essa modalidade é indicada apenas para investidores experientes, pois exige muita habilidade e estratégia.
Qual a importância do perfil de investidor?
O mercado de ações tem mais emoção que os investimentos de renda fixa e são indicados para pessoas que possuem maior apetite por risco. Por isso, antes de começar a investir na Bolsa é essencial conhecer o seu perfil de investidor.
O teste suitability – disponibilizado pelas corretoras de investimentos – considera idade, dinheiro disponível para investir, inclinação a tomar risco, objetivos, prazo de investimento, necessidade de liquidez, entre outros aspectos, para definir o seu perfil.
Com a avaliação dessas informações, os investidores são classificados em três categorias de perfis: conservador – que prioriza a segurança do dinheiro; moderado – aceita correr um pouco mais de risco para conseguir retornos acima da média e, por fim, arrojado – com maior apetite por risco para ter uma boa rentabilidade no futuro.
Como lidar com a alta volatilidade do mercado de ações?
Normalmente, os investidores entram em pânico quando a Bolsa despenca e, muitas vezes, estimulados pelas emoções acabam tomando decisões precipitadas e irracionais.
Antes de comprar ações é importante verificar o histórico da empresa. Faça uma pesquisa para saber se é uma companhia sólida que consegue atravessar momentos de turbulência, sobreviver e continuar crescendo. Caso seja uma organização firme, basta aguardar a recuperação.
Em momentos de queda, Esteter recomenda evitar olhar as cotações a cada minuto. “Se o investidor busca retorno de longo prazo, não faz sentido ficar observando cada segundo da bolsa, porque causa desespero e quando influencia o seu pensamento nem sempre você acaba tomando a decisão certa” diz.
Ele ainda destaca que é importante acompanhar o mercado financeiro com regularidade, mas sem deixar a ansiedade tomar conta. “Basta saber que no longo prazo a Bolsa tem uma tendência positiva desde que ela existe. A partir do momento que o investidor faz boas escolhas no longo prazo, não precisa ficar ligado a cada minuto no que acontece”, afirma.
No entanto, se o investidor perceber que realmente não tem perfil arrojado para estar na Bolsa de Valores, talvez seja o momento de refletir e mudar a estratégia.
“Remanejar o portfólio, diminuir a exposição na Bolsa e talvez buscar fundos de investimento em renda fixa, mas também alinhar as expectativas considerando que o retorno será menor”, finaliza Vaz.
https://www.bloomberg.com/quote/IBOV:IND
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