Frente às desigualdades latentes observadas no mundo, lideranças mundiais do cooperativismo se reuniram para discutir o papel de transformação do setor em prol de um mundo mais igualitário socialmente.
Combate à desigualdade social e de gênero, acolhimento de refugiados, apoio a deficientes físicos e sociabilização foram temáticas presentes no painel “O cooperativismo como resposta à desigualdade social”, que se propôs a debater o 10º objetivo de desenvolvimento sustentável da ONU, que fala da redução das desigualdades.
O encontro colocou lado a lado referências nacionais e internacionais no combate às desigualdades, em diferentes áreas. A discussão, mediada por Eudes de Freitas Aquino, presidente da Unimed do Brasil, fez parte do evento “Cooperativismo e os objetivos do desenvolvimento sustentável: combinando impacto econômico e social por um mundo melhor”, realizado pelo Sistema OCB e Unimed do Brasil, com participação da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), no início de março.
Os participantes apresentaram ao público diferentes áreas e formato de projetos nos quais as cooperativas podem atuar para tentar reduzir as diferenças de oportunidade entre a população. A canadense e CEO da Co-operators Ltd, Kathy Bardswick, abriu a discussão falando sobre como o cooperativismo pode colaborar com o fim da desigualdade de gênero no mercado de trabalho.
“Há evidências que mostram que os grupos tomam melhores decisões quando há diversidade, que as comunidades se tornam mais fortes quando diversas e que a economia é mais bem-sucedida quando plural. Se todos concordam com isso, por que as estatísticas permanecem expondo desigualdades entre os gêneros?”, provocou a canadense, referindo-se aos dados que indicam a sub-representação feminina em cargos de liderança em seu país. Kathy colocou que as cooperativas precisam fazer mais para atingir a igualdade e que é preciso estabelecer metas claras para atingir esse objetivo.
O italiano Carlo Scarzanella, vice-presidente da Associação Italiana de Cooperativas, e o sueco Anders Lago, CEO das Cooperativas Suecas de Habitação, falaram sobre projetos desenvolvidos em seus países para acolhimento de refugiados. “A imigração maciça é um fenômeno típico dos nossos tempos e não pode ser ignorado. É preciso uma estratégia sólida para acomodar esse fluxo migratório”, defendeu Scarzanella.
Lago apresentou as políticas públicas de inclusão de refugiados em execução na Suécia, por meio da construção de casas de baixo custo para essa população. “Enquanto muitos países fecharam as suas fronteiras, nós abrimos as portas para essas pessoas como parte do processo de redução das desigualdades. Toda a sociedade assumiu essa responsabilidade”, defendeu. Já na Itália, a experiência dos centros de acolhimento foi apresentada como forma de oferecer apoio jurídico, físico e mental aos indivíduos nessa nova vida.
A importância da imigração para o desenvolvimento de seu país também foi enfatizada por Lago. Sua fala foi endossada pelo presidente da Unimed do Brasil, que abordou o papel determinante dos fluxos migratórios na formação da sociedade brasileira. “Precisamos entender, de uma vez por todas, que somos todos iguais”, afirmou Aquino.
Já Kenki Maeda, gerente-geral do Instituto Japonês de Pesquisa em Cooperativismo, compartilhou a experiência do contexto japonês, no qual o pós-guerra e o desenvolvimento econômico proporcionaram a formação de uma sociedade mais individualista e independente. Hoje, a partir do reconhecimento da importância da cooperação, ele conta que diversos projetos estão sendo desenvolvidos por cooperativas para incentivar a sociabilização e o senso de comunidade entre as pessoas. Festas de bate-papo e centros de convívio entre pais e filhos estão entre essas iniciativas. “Muitos projetos têm esse viés social. A ideia é fortalecer laços e tecer relacionamentos”, explicou o pesquisador em cooperativismo.
A possibilidade de os projetos cooperativistas ajudarem também na inclusão de deficientes físicos foi abordada por Mitiko Morimoto Trida, presidente da Associação da Mulher da Unimed de Lins (AMUL). Ela falou sobre a atuação da associação na ressocialização de deficientes visuais por meio do desenvolvimento de projetos de alfabetização em braille, orientação em mobilidade e inclusão profissional.
Mais informações sobre as propostas cooperativas para a consolidação dos objetivos de sustentabilidade das Nações Unidas podem ser conferidas no site Co-ops for 2030 (http://www.coopsfor2030.coop/en).