Nas próximas semanas, publicaremos do CONEXÃO uma série de entrevistas com os últimos vencedores do prêmio Inova + Saúde, que destaca iniciativas de singulares em todo o país. Os representantes dos projetos premiados farão uma visita, em maio, ao maior centro de inovação da área de saúde, o Garfield Innovation Center – Kaiser Permanente.
A primeira entrevista da série traz um exemplo de como a humanização pode levar a melhores resultados assistenciais. O caso é do Centro Hospitalar Unimed (CHU), em Blumenau, Santa Catarina, onde foi implantada uma política de portas abertas na UTI, levando à diminuição da ansiedade e dos casos de delirium, além do aumento da satisfação dos pacientes.
Para dar mais detalhes sobre a implantação da política, convidamos Glauco Adrieno Westphal, coordenador das UTIs do CHU, para falar sobre o assunto:
CONEXÃO – A Unimed Joinville decidiu agir para diminuir as taxas de delirium, que eram compatíveis com o que é descrito em populações de pacientes críticos. O que motivou a iniciativa?
Glauco Westphal – Sim, as taxas daquela época são compatíveis com o descrito na literatura especializada e são elevadas. Encontrar alternativas que possam reduzir essas taxas é um desafio para intensivistas e pesquisadores clínicos de todo o mundo.
CONEXÃO – Como foi a ampliação do horário de visita na primeira etapa do processo?
Glauco – No momento inicial, tínhamos quatro horários de visita fixos de meia hora cada (5h45, 11h, 16h e 19h). Depois flexibilizamos a permanência dos familiares para que pudessem ficar até seis horas, além desses quatro horários da fase prévia.
CONEXÃO – Na segunda etapa, a mudança foi mais radical: a implantação de política de UTI portas abertas, sem limite para horário de entrada ou de tempo de permanência de um familiar. Como o hospital se preparou para implantar essa mudança?
Glauco – De fato, não foi muito difícil depois do período de experiência com a extensão de seis horas. A UTI do CHU tem uma boa estrutura com quartos individuais delimitados por paredes, portas e poltronas confortáveis para acomodar os familiares. Foi necessário definir a rotina de entrada, saída e alimentação dos familiares, bem como as regras durante a permanência.
CONEXÃO – Como o corpo clínico participou desse processo? Como você avalia o engajamento dos médicos? E dos demais profissionais da equipe?
Glauco – A implementação ocorreu em etapas e permitiu que a toda equipe assistencial se adequasse e aderisse à ideia. Claro, em um momento inicial, houve algum estranhamento por parte de alguns, afinal, tratava-se de uma grande novidade, mas nada que se possa chamar de resistência. Aos mais “resistentes”, cabia repetir a frase aprendida de um dos nossos cooperados, Dr. Hercílio Fronza Jr, quando fui seu residente: ‘Afinal, o que acontece de tão misterioso dentro de uma UTI que não pode ser visto e vivenciado pelos familiares?’
CONEXÃO – Com a ampliação e a política de portas abertas, o que mudou na relação entre os profissionais de saúde e o binômio paciente-familiar?
Glauco – Percebe-se um nítido aumento na satisfação dos familiares, um claro incremento na eficiência da comunicação entre a equipe de saúde e paciente-família, aparente redução da ansiedade dos familiares e dos próprios pacientes que se veem acolhidos por quem lhes é mais caro, seus próprios familiares.
A presença de familiares contribui para humanização do cuidado. O termo “humanização” refere-se ao resgate de um aspecto fundamental do cuidado ao paciente grave que é garantir a ele o que é essencial: a condição humana. Na nossa percepção, a presença de familiares junto aos seus entes queridos é um caminho para reumanizar pacientes e cuidadores, diminuir a sensação de isolamento e os níveis de ansiedade, o que facilita no despertar da sedação e auxilia em procedimentos simples, como os de higiene e alimentação. Acredito que tudo isso parece contribuir para o manuseio do delirium.
CONEXÃO – Que dicas você dá para outras Unimeds que queiram ampliar o tempo de visita e implantar uma política de UTI de portas abertas?
Glauco – Por mais desafiador que pareça ser, a liberação de visitas na UTI é cercada de mitos. Eu diria: não cedam aos mitos! Familiares na UTI não atrapalham, não são solicitantes em excesso. Eles auxiliam no cuidado, facilitam a dinâmica da comunicação, e tudo isso permite que a família se prepare para os cuidados necessários após a alta da UTI e do hospital. Além disso, lembremos que as UTIs pediátricas têm suas portas abertas aos pais dos pequenos doentes há muitos anos.
CONEXÃO – Como surgiu a ideia de inscrever o projeto no prêmio Inova+Saúde?
Glauco – Houve a coincidência da constatação desses resultados com a divulgação do prêmio. Estávamos realmente motivados com os resultados observados e decidimos inscrever o projeto.
CONEXÃO – Qual a importância do prêmio para a Unimed Joinville?
Glauco – O prêmio Inova+Saúde foi realmente motivador. Estimulou diferentes setores do hospital a descrever seus projetos de melhoria e permitiu a cada um desses setores perceber suas potencialidades em contribuir com a instituição, ainda que em iniciativas simples.
Sermos merecedores desse prêmio nos enche de orgulho, pois sabemos que a política de UTI de portas abertas é uma iniciativa realmente inovadora, considerando que menos de 3% das UTIs brasileiras dispõe de políticas de visitação dessa natureza. O prêmio veio coroar uma preocupação histórica da nossa instituição que é o cuidado humanizado.
CONEXÃO – Qual a importância do prêmio para a difusão de melhores práticas do Sistema Unimed?
Glauco – A existência desse prêmio permite divulgar e, principalmente, compartilhar práticas e experiências de sucesso entre as Unimeds, além de contribuir para a divulgação de boas práticas e para a credibilidade das nossas cooperativas.